DIÁRIO DE UM BRASILEIRO
 
A vida como não deveria ser, mas é?

EXEMPLO FAMILIAR

 
          Hoje sou um Conselheiro Tutelar, recebi uma denúncia que uma criança de treze anos teve bebê noite anterior e que teria que acompanhar o caso. Cheguei ao hospital, encontrei a jovem criança amamentando o bebê, logo ficou sabendo quem eu era e prontamente me avisou que sua mãe estava chegando. Não demorou instante quando sua mãe chegou e me cumprimentou. Obrigado por ter vindo, minha filha teve um caso com um motorista de ônibus casado e o danado colocou na cabeça dela que vai assumi-la, uma criança, já imaginou. Isto é crime, já fui logo falando, o cara tem que ser preso, sua filha ainda é criança. Pronto fui eu abrir a boca que a briga começou, a jovem criança com o filho nos braços foi dizendo, pois ele é meu marido e minha mãe sabia disso e foi ela quem deixou. A coisa foi ficando preta, a mãe entrou no meio e para fazer o relatório para encaminhamento para a Vara da Infância a coisa ficou pior. As duas contra mim e contra o sistema. Parei um pouco e refleti, para amenizar a situação comecei a conversar. A senhora tem quanto filhos, procurei para mãe. Tenho cinco, respondeu, só balancei a cabaça. De repente chegou a avô, arrastando a enfermeira que não a deixava entrar. A coisa ficou pior. Tentando conter o tumulto assumi a responsabilidade. Notei que as duas eram bem parecidas, ai me bateu uma curiosidade de perguntar a idade, coisa feia, mas naquela situação acabei arrancando esta informação. Tenho vinte e oito, informou a mão da menina. E sua mãe, perguntei meio sem jeito. Minha mãe tem quarenta e cinco, respondeu orgulhosa a filha. Pensei um pouco, caramba, a filha muito jovem tem ter anos, a mãe tem vinte e oito, a avó tem quarenta e cinco, nem vou procura quantos anos tem a bisavó. Meu pensamento trouxe uma noticia não muito boa. A enfermeira chegou falando, tem outra mulher na portaria querendo entrar. Quem? Perguntei já sabendo que era outra pessoa da família. É a avó da mãe da menina que quer vê a crianças, digo as duas crianças. Pensei, mas não tinha jeito, tinha que mandar entrar, já estava feito o angu, agora tinha que comer o caroço. A avó da mãe da menina chegou meio brava e foi logo avisando! Minha mãe tá vindo ai e o Senhor trate de avisar logo para deixá-la entrar se não o trem não vai prestar. Fiquei assusta com tanta mulher, mão avó, bisavó, tetravó, pentavó. Sei lá o que mais poderia acontecer ali, nem sabia o que estava fazendo naquele hospital. Não demorou muito a escanxavó, com diz Luiz Gonzaga chegou e com ela acompanhada de sua mãe, pirei, não entendia mais nada, já sem saber como me livrar de tantas mães e avós comecei a fazer conta após saber as idades de todas. Pense numa coisa louca. A menina treze anos, a mãe da menina, vinte e oito anos, sua mãe quarente e cinco, sua avó sessenta e cindo a avó de sua mãe setenta e cinco. Logo perguntei tem mais alguém por vir. A resposta foi triste. Respondeu a bisavó da mãe da menina com o bebê. Coitadinha, minha mãe morreu faz um mês seu moço, foi de acidente, motorista sem coração, não viu que a coitada não podia correr mais e a pegou atravessando a pista. Conclusão, não fiquei sabendo que ocorreu com meu relatório, mas depois de muito tempo os vi, a menina com a criança e um senhor de idade se dizendo seu marido.
Léo Pajeú Léo Bargom Leonires
Enviado por Léo Pajeú Léo Bargom Leonires em 21/05/2013
Reeditado em 23/11/2018
Código do texto: T4302276
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