Pressão

Acordo e já tomo o comprimido de pressão. O copo de água gelada, que desce pela garganta, sufocada pelo calor intenso. Os lençóis ensopados de suor, com um sonho que era estar acordado, rolando de um lado para o outro, sem posição. Abrindo a janela, uns míseros respingos de chuva, que nem sequer conseguia sentir. O ventilador, cuspindo um vento quente, feito mormaço de cano de descarga. Um pacote de Cheetos na noite passada, que mal conseguia abafar o gosto da cerveja gelada, acompanhada de tira-gostos de feira. Escovar os dentes é uma rotina cretina. Isso, ou ficar com os dentes estragados, tendo que encarar esses dentistas de merda, que só sabem enrolar e deixar sua boca mais estragada.

E essa pressão. Sempre tem algum médico querendo dizer sobre o nosso limite. Olho aquele sujeitos com hálito de nicotina, barrigas imensas dentro dos seus trajes brancos e penso, esses caras já ultrapassaram o limite deles, como querem falar do meu. Odeio o cheiro de hospital. Prefiro o aroma do caminhão do lixo, pois é mais verdadeiro. Basta que passem os lixeiros e pessoas frescas tapam os narizes, como se a bosta deles fedesse menos que os retos ali reunidos. Um brinde a quem limpa nossa sujeira, já que somos canalhas o suficiente para deixar que outros façam o serviço sujo. Ontem passava uma notícia, relatando a pressão do governo tal sobre o outro tal governo, dizendo que acarretaria nisso e naquilo. No final, sempre nós pagamos o pato, sejam em guerras ou impostos. Politicagem nojenta.

Adoro ver o copo suando. Sinto que se tornou meu companheiro de sudorese. Sinto saudade de quando escrevia cartas. Minha letra sempre foi horrível, mas a caligrafia era menos fria que essa fonte tão bem delineada. A escrita é mais clara, mas obscurece os sentimentos, o cansaço das mãos, a cólera em letras mal traçadas. Se quiser gritar, terei que aciona o caps lock, que coisa mais escrota. Na tv, programação para suicidas, com repetições de programas insuportáveis. Odeio as propagandas. Elas alimentam as telas, instigando, a cada momento, fazendo com que leiloemos o próprio traseiro. Propaganda me enoja. Pelo menos, sei por que, chamam horário político de propaganda eleitoral. Sou pressionado por cobradores, pedintes, patrões, e todo mundo que se acha no direito de pedir algo.

- Hummm! A pressão. Boa mesma é a que meu corpo exerce sobre o da minha mulher. Só de ver aquela boceta, quase gozo. Mas seguro, preciso aproveitar e sentir aquele rebolado que só ela tem. Isso sim é pressão. Não me importo de suar. Suamos juntos. As gotas pingam nos seios dela, enquanto soco o mais fundo que eu possa, erguendo bem aquele par de pernas com coxas grossas. Quando ela geme, é melhor ainda. Basta vira-la de costas, agarrando-lhe pelos cabelos e provando da sua nuca. Sempre me oferece aquela bunda gostosa. Não resisto. Como seu cu até gozar dentro. É bom demais encher aquele rabo de porra. Continuo pressionando o pau dentro dela, porque mesmo depois de gozar, ainda mantém-se duro. Depois é só relaxar, tomando uma boa chuveirada. Corpos nus andando sem pudor pela casa.

Mais uma passada de olhos no romance que estou lendo. O chuveiro continua somente com a opção de água morna. Os pés erguidos, após o dia com sapatos desconfortáveis. A meia, ensopada, jogada no cesto de roupa suja. Uma música calma ao fundo. Cinco minutos depois, desligo o som. Escuto a molecada gritando, pensando que poderia chover agora. Iria dormir embalado pelo som da chuva, em vez de sufocar nessa sauna improvisada. Vou continuar sem dormir, rolando e enrolando pela madrugada, sob a pressão do mormaço que me cozinha. Todo dia é inferno, o que significa, nada de esperar por um diabo chefe e coisas do gênero, no máximo, um chefe dos diabos, eis a nossa patética vida.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 13/12/2012
Código do texto: T4034285
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