Raposa solta no galinheiro
Raposa solta no galinheiro!
A tarde estava nublada e o tempo abafado.
- Sinal de chuva Maria. Não estou aguentando este calorzão!
A mulher, lá na cozinha, simplesmente resmunga concordando. Estava ocupada fazendo a janta e não deu muita importância à exclamação do marido, vinda da sala.
Este, confortavelmente, assistia à televisão também não dando muita importância ao resmungo vindo da cozinha. Conversavam por conversar. Se é que podiam chamar isto de conversa.
No noticiário ele prestava atenção às mazelas do povo e a corrupção brasileira.
O som da televisão estava alto.
- O Joelmir morreu Maria.
Novamente o resmungo.
Folgadão. Pés na mesinha de centro, cigarrinho de palha na boca, pendurado no canto direito do lábio.
De vez em quando olhava para fora do casebre e via o mato do sítio, que estava crescendo consideravelmente, e ele sem vontade de cortá-lo.
- Eita Brasil sem jeito! Só prende peixe pequeno.
- Maria a janta está pronta?
Resmungo...
- Óia a previsão do tempo Maria: vai chover mesmo. É melhor pegar as roupas hein!
Desta vez nem um resmungo teve como resposta.
O Cruzeiro não ganhou nada este ano. Que time fio da mãe.
Desta vez pensou consigo mesmo. A esposa era atleticana.
- Maria daqui a pouco começa a novela.
- Tá bão!!!
Continuou prestando atenção nos noticiários. Não tinha nada para fazer. Daqui a pouco começava a novela. Sempre finge uma reclamação mas não desgruda os olhos da novela.
- Xiii Maria, o Macarrão confessô tudinho. Agora o Bruno se lascô todo!
Barulho das panelas. Maria não parava e não tinha tempo de resmungar mais. Agora corria por causa da novela que iria começar.
De repente ele parou de balançar o pé, cuja perna estava dobrada sobre o joelho. O noticiário mostrava que Felipão seria o novo treinador do Brasil. Ele pulou da poltrona e exclamou:
- Disgrama Maria! Agora o negócio ficou feio!!! Entrou raposa no galinheiro!!
Quase caiu de volta para a poltrona, quando Maria passou correndo e pulou os três degraus do casebre com uma vassoura na mão, indo em direção ao galinheiro.
- Uai...mas se os adversários reagirem assim, a raposa não vai conseguir fazer nada!
Sentou, novamente, e se preparou para assistir a novela.
- Eita mulher matuta sô!
Carlos A.