Ana e Ester: destinos traçados (1ª parte)

Ana e Ester

Relógio desperta, são exatamente seis horas da manhã. Na cama, ainda adormecido, Jocinaldo estica o braço e com as mãos desliga o despertador. Feito esta difícil e lenta tarefa, tão cedo, Jocinaldo se vira e abraça sua companheira. Ana, também, ainda adormecida, boceja, se estica, dá um beijo no seu companheiro. Ela não quer sair da cama, mas ciente dos compromissos de cada um da família, é com muita dificuldade que sai da cama.

Ana primeiramente vai ao banheiro e faz sua higiene pessoal. Lava o rosto, escova os dentes, lava o rosto novamente. Recomposta e mais desperta, se dirige novamente ao quarto, aonde seu companheiro, duro como pedra, ainda jaz dormindo. Com muita dificuldade Ana consegue tirar-lo dali.

Cumprida sua difícil missão com Jocinaldo, Ana teria de cumprir uma missão maior ainda: acordar o casal de filhos gêmeos, nascidos a dez outonos atrás. Primeiro vai ao quarto de Anderson, e após dez longos minutos consegue tira-lo da cama. Feito isto, se dirige ao quarto de Estela, demorando outro tanto de minutos para acordá-la.

Missão cumprida, todos acordados, Ana dirige-se para a cozinha, aonde Jocinaldo apronta o desjejum, que já está pronto quando chega ao recinto, sobra-lhe, então, organizar a mesa. Mesa posta, Ana, como se praticasse um ritual, senta-se de frente a Jocinaldo e os dois enquanto esperavam os filhos, planejam, juntos as atividades do dia.

Não muito distante dali, outra família cumpri não menos custoso ritual. Mesmo horário, relógio desperta, Geovane estiva o braço, e com dificuldades consegue desligar. Volta-se para sua companheira, lhe faz caricias, beijá-la, e adormece novamente. Ester já desperta, espreguiça-se e faz afagos no companheiro. Após, crente de sua responsabilidade, afasta os braços que lhes abraçava, levanta-se cambaleante, vai até o banheiro, lava-se, toma seu banho e se arruma. Queria está bem pronta, seria seu primeiro dia de trabalho no novo emprego. “Como seria?”; “e os colegas de trabalho?”... Essas e outras tantas perguntas povoavam sua cabeça dançam em sua mente enquanto acaba de se aprontar.

Arrumada, Ester desperta seu companheiro. Este, por sua vez, no caminho para o banheiro chama os filhos: Ricardo e Vinicius, com seus, respectivamente, dez e nove anos, que demoram longamente para se acordarem.

Enfim, acordam e se aprontam para a escola, enquanto sua mãe prepara o desjejum. Todos prontos, é hora de cada um fazer sua alimentação e partir para seus afazeres. Ester, que normalmente fala bastante, está especialmente quieta, tomada pela ansiedade nesta manhã, por conta de seu novo emprego. Geovane, sempre muito atencioso, tenta acalmá-la, entretanto todo seu esforço é inútil.

Por fim, é chegada a hora de todos saírem. Geovane pega o carro e vai trabalhar. Ele trabalha numa distribuidora de bebidas não alcoólicas e naquele dia, teria de ir numa cidade vizinha, visitar alguns comerciantes locais. Ester, mãe dedicada, antes de pegar o ônibus para trabalhar, deixa os filhos na escola. Somente depois de deixar os filhos seguramente na escola, que Ester dirige-se para o ponto de ônibus, ponde-se a esperar o interurbano que o levaria até seu novo emprego.

Enquanto isto, em nossa outra casa, Ana e Jocinaldo acabam de se aprontarem, e juntos, levam seus gêmeos para a escola. Dali Jocinaldo vai ao seu trabalho, que fica no outro extremo da cidade, numa oficina especializada, mas não sem antes, deixar Ana no ponto de ônibus mais perto. Dali, Ana, assim como Ester, tomaria um interurbano que o levaria até seu emprego.

Há algumas quadras de distancias, Ester ainda esperava seu interurbano, que por coincidência, daquelas peças que o destino nos prega ou seja lá o que fosse, é o mesmo que Ana espera mais a frente. Como se o destino traçassem os seus caminhos, Ester e Ana, daquele dia em diante trabalhariam no mesmo local. Entretanto, para Ana, este era mais um dia, comum, igual a todos os outros, mais um dia que formalizava a rotina que tinha sido sua vida nos últimos tempos. Já para Ester, tudo naquele dia seria novidade, quando no outro emprego trabalhava só meio período, não levava os filhos para a escola, e dormia até mais tarde, em compensação, tinha de fazer o almoço pela manhã para toda a família.

Os destinos das duas mulheres, mães, esposas, amantes e apaixonadas por seus companheiros, sem que os soubessem estava a ponto de se encontrar, e se elas soubessem, talvez, se desviariam dele.

Israel Goulart
Enviado por Israel Goulart em 03/03/2007
Reeditado em 03/03/2007
Código do texto: T399681
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