Superhomem - a canção
letra e música: Gilberto Gil
1979
Um dia
Vivi a ilusão de que ser homem bastaria
Que o mundo masculino tudo me daria
Do que eu quisesse ter
Que nada
Minha porção mulher, que até então se resguardara
É a porção melhor que trago em mim agora
É que me faz viver
Quem dera
Pudesse todo homem compreender, oh, mãe, quem dera
Ser o verão o apogeu da primavera
E só por ela ser
Quem sabe
O Superhomem venha nos restituir a glória
Mudando como um deus o curso da história
Por causa da mulher
VERSOS
Como poeta desejo poetar,
Versejando
Versos curtos,
Versos longos;
Rimados e
Não rimados.
E com meus versos dizer o dito,
E o não dito
E também seu meio termo.
Vê e observar o visível
E o não visível
Da alma
Do coração
E dos olhos.
Falar quando me calo,
Calar-me quando falo.
Escrever o não escrito,
Deixar de escrever o
Escrito
Apagando os borrões
Das páginas mal-escritas.
Brigar quando há paz,
Apaziguar quando há briga.
Viajar sem fazer viagens,
Fazer viagens sem viajar.
Voar sem ir às alturas,
Ir às alturas sem alçar vôo.
E como pássaro
Livre,
Solto,
Fora da gaiola,
Com um simples e breve bater de assas,
Transportar-me para longe,
Sentindo a brisa,
Desfrutando da liberdade do escrever,
Do sentir,
Do desejar,
Do versejar,
... Do poetar.
De ser o “eu” mutante
Múltiplo,
Metamorfoseado.