Flerte Casual

Em sala de aula, aguardando a entrada do professor, o aluno se concentra na leitura de uma obra filosófica, indiferente a conversação das outras pessoas. A chegada do mestre diminui o falatório. Fecha o livro e aguarda o conteúdo que será apresentado. Nisso, uma batida na porta. Entra uma figura feminina alta, com cabelos escuros, rosto com algumas sardas, batom vermelho vibrante nos lábios. Durante a aula, sente que algo o observa. Algumas vezes que divaga o olhar para outras direções, que não a frente, onde encontra-se o professor, acaba cruzando com aqueles olhos, a boca, mesmo de longe, com aquele brilho fascinante.

Na próxima aula, sentando-se em um ângulo mais favorável que favoreça contemplar aquela que lhe chamara a atenção. Começa uma troca de olhares, sempre correspondida, muitas vezes tão compenetrada, que nem disfarçava, deixando a aula relegada a um outro plano. Um dos amigos do rapaz, comenta a respeito da garota alta, que pensa em alguma aproximação, pois talvez consiga algum êxito. Em seu pensamento, sabe que ela já lhe pertence e ele a ela. Não conseguindo conter-se, faz um aceno e lhe entrega um bilhete, onde fornecia seu telefone e pedia o dela para contato. O bilhete é devolvido, com o número da jovem.

Mais uma aula, agora com intensa troca de mensagens, tanto elogiosas, quanto de escárnio ao conteúdo apresentado pelo professor. Nos intervalos, trocas de olhares. Mesmo quando um saía para ir ao banheiro o outro também o fazia, para mais um encontro de olhares pelos corredores. Sorrisos já surgiam nos lábios, em meio aos sons dos avisos de mensagens que os celulares produziam durante as aulas. Uma aproximação mais direta não era feita por nenhum dos dois, mantendo sempre certa distância entre os enamorados.

Por uma ironia do destino, o rapaz seria transferido. O que fez com que se desesperasse acerca de uma aproximação. Enviando mensagens mais sugestivas. No final de um dia letivo, oferecera uma carona a jovem. Buscou o carro no estacionamento próximo, aguardou a saída da moça, que ficara até o término da aula. Enquanto ele, ansioso, saíra antecipadamente, tentando ler e não conseguindo concentrar-se. acabando por ligar o som do veículo e se distrair enviando mensagens para a moça. Passou em frente a instituição de ensino, abrindo a porta do carona para que moça pudesse entrar. A conduziu até o bairro onde morava, que era um pouco distante de onde estudavam. Conversaram sobre assuntos diversos. A garota perguntara inclusive sobre a aliança que não mais vira no dedo anelar do rapaz.

Chegando ao local onde a jovem seria deixada. Um momento em silêncio, os olhos se encontraram e ambos ficaram paralisados sob o efeito da visão de um em relação ao outro, podendo verificar o reflexo de si na órbita alheia. A moça se despediu, mas antes de deixar o veículo, o rapaz dissera que ficasse mais um minuto, beijando-a nos lábios. Um beijo curto, mais impactante, deixando ambos mudos, mas como se tivesse dito tudo a partir daquele gesto. Se despediram com um sorriso mais largo. Ainda contemplara aquele corpo esguio, bem feito, utilizando calça jeans e camisa de babado branco se afastar. A imagem dos lábios, provocadoramente pintados de vermelho na mente. Manobrou o carro e voltou para casa, com o pensamento voltado para os últimos acontecimentos. Nunca mais se reencontraram.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 30/07/2012
Código do texto: T3804597
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