Fantasia

Por entre campos verdejantes, tropas se alinham. Infantaria que avança por um relevo difícil e desconhecido. Não percebem a emboscada, armada nos flancos, onde inimigos encontravam-se pacientemente camuflados. As investidas são brutais, fazendo com que soldados caiam aos montes, tendo seus corpos perfurados por projéteis a longa distância, e baionetas no corpo a corpo. Um capacete sem cabeça, fora encontrado próximo a um pequeno lago. O sol não dá trégua, fazendo ofuscar a vista de atiradores, que se posicionam distantes. Alguns infantes se arrastam pela terra, outros mergulham, sendo atingidos submersos. A voz de mulher interrompe o conflito. Pedindo que o garoto não brinque com os seus brinquedos, tão próximo ao portão. Ficara tanto tempo alinhando os soldados na grade, agora teria que mudar sua estratégia, explorando outras partes do terreno.

Um casal brigava, por conta de contas atrasadas e choro dos filhos. A janta estava sendo preparada pela mulher em fúria, que com as mãos na cintura, provocava o marido, dizendo-lhe desaforos. No quarto o bebê chora, sendo acudido pela irmã caçula, que o embala, sob os gritos dos pais. Roupas secam estendidas no varal improvisado com arame farpado. O vizinho desfila diante do portão humilde, com seu carro importado, acenando como um político em época de eleição. Dois namorados se beijam no beco próximo ao vilarejo, trocando juras de amor, recitando trechos de poema. Cada beijo é seguido de olhares preocupados, para averiguarem se não estarão sendo vigiados. Somente o pequeno cão de uma casa próxima, late, denunciando o casal apaixonado. A vida sendo bruscamente paralisada, com o grito do pai, que pede que a filha entre para fazer seus deveres escolares. Abandonando a casa, os familiares, os apaixonados, todos esquecidos no quintal de cimento, próximo a garagem, enquanto a menina entra contrariada.

Em planeta desconhecido, pesquisadores procuram informações acerca de vida alienígena. Explorando locais inimagináveis, com grutas tenebrosas, que cada vez mais, distanciava o grupo da nave que os conduzira até aquele local. Certo cientista se distanciara dos companheiros, atraído por uma luminosidade vinda de uma abertura na rocha. Fora surpreendido por uma criatura, que o agarra com uma força indescritível, desmembrando o corpo. Os gritos, ouvidos pelos outros tripulantes da expedição, causaram pânico. No desespero, acabaram separados, um em cada parte daquele estranho emaranhado rochoso. Caçados, um a um, com os corpos esquartejados. Por fim, apenas um trio restara, de uma equipe de vinte pessoas. Resolveram se armar, utilizando o material que trouxeram para realizar a pesquisa, unido ao que encontraram no terreno. O medo tomou conta dos sobreviventes, ao contemplarem as proporções gigantescas da criatura, que mesclava características humanas com reptilianas. O combate seria agressivo, lanças e armas de choque, contra garras e força descomunal. Tudo pronto para uma batalha sem precedentes. Até um grito no portão cancelar o ato. uma entrega de correspondência, que fez com que a mãe transitasse pelo mundo alienígena, e fosse receber o envelope, assinar papéis e ainda conversar sobre o episodio da novela com a vizinha.

Continuo digitando, com o intuito de expor mais casos, explorando todo esse imaginário, que não é apenas infantil, mas que faz parte de nossa criatividade cognitiva. Diante de telas de cinema, exposições de arte, ouvindo música, jogando xadrez, pensando a respeito dos afazeres, bebendo algo, fazendo amor, discutindo, urinando, adoecendo, lendo, navegando pela internet, cometendo um crime, legislando, atendendo o telefone, dançando, rezando, se tatuando, drogando-se, estudando, fotografando, sorrindo, abraçando um amigo, vestindo uma roupa, buscando uma lembrança, recebendo um diploma, chorando. Enfim, sou interrompido, por esse sono que me baixa as pálpebras, turva a mente, deixa os membros amolecidos. Interrompe minha escrita e me faz prostrar-se na cama, sobre os lençóis, sob as cobertas, com a cabeça aconchegada aos travesseiros, longe da fantasia de escrever e entregue a fantasia de sonhar.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 21/07/2012
Código do texto: T3789560
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