Noite de Festa

Convidados se ajeitando em mesas ornamentadas com toalhas brancas, que fazem lembrar vestidos com babados longos. os pés escondidos atrás do tecido, outros atrevidamente vissíveis, revelando calçados pretos bem polidos ou mesmo a parte de cima de pés femininos, que se equilibram em saltos de tamanhos variados. os talheres brilham conforme a luminosidaade das lâmpadas florescentes, prataria bem disposta convidativa a paladares. Taças prontas para brindes, aguardando espumantes que irão transbordar por suas delicadas bordas e ensopar as vestes das mesas, assim como as roupas dos que portam as bebidas, em um ritual de banhar-se com o movimento das mãos que tremulam na cadência do evento.

Alguém anuncia algo que desperta a atenção da maioria, pois sempre existe os ignoram algo. Mas os muitos sempre são levados por um gesto, algo já premeditado, aguardando a apenas o momento em serem coletivos. No ir e vir mesmo perante o discurso, temos calças que cobrem pernas peludas, onde os pelos se entrelaçam aos fios, assim como coxas lisas protuberantes que saltam de vãos triangulares, fendas que os vestidos agressivamente deixam escapar generosas porções de carne. Os decotes também exibem bustos que saltam, em um desejo louco de exibir apenas contornos, deixando mamilos muito bem velados, embora vez ou outra alguém resolver ousar, com um tecido fino e bicos tesos marcando a indumentária.

Existem os que servem, com um padrão de uniforme, demonstrando sua individualidade através das faces, que variam desde sorrisos simpáticos a risadas falsas, assim como expressões congeladas e raivosas. As crianças circulam e fazem as pessoas roddopiarem em um desvio das brincadeiras que já perderam o sentido infantil que antes os emocionava. Meninos que roubam docinhos, fazendo o que muitos hominhos desejariam ter feito, só que a infantilidade tem mais coragem, justamente por ter o aval daqueles que desconhecem as regras. Garotos tiram as camisas fechadas e exibem seus pequenos tórax suados, enquanto os pais os forçam a ingerir água para não desidratarem.

A mesa central, faz quem adentra o ambiente, ter logo uma impressão a seu respeito. Majestosa, ela é o centro das atenções, com seu bolo de proporções gigantescas, escoltado por outras guloseimas. O anfitrião exibi-se em ponto estratégico, para que todos o cumprimentem, sendo uma espécie de bolo não consumível, que todos deverão tocar em uma ritualística de tato. Em torno dessa figura, giram as mesas com seus ocupantes, preenchendo o espaço e dando vida a festa que carece desse recheio populacional. Os carros estacionados do lado de fora, dão a dimensão do espetáculo, assim como o som que ecoa na vizinhança, alertando mesmo os que não desejam tomar conhecimento do fato.

As conversas dos grupos qque se formam é variada, alguns elogiam e outros criticam. Os drinks são servidos e muda-se o tom, os mais exaltados requebram em danças pouco sensuais, mas que são uma oferta aos ainda estagnados. Os copos insistem em permancerem cheios, com bebidas espumantes que dão tonalidades degradês as barbas presentes. A voz, mais arrastada, já evidencia o desprendimento às regras nessa altura do campeonato, com corpos balançando mesmo sem música, em uma constância aos sanitários, que estão prontos - até certo momento - a atenderem a demanda. Privadas salpicadas de gotículas amarelas, volumes de papés que forma pilhas em cestos, assim como pias que transbordam por estarem entupidas.

Pessoas dançam com braços que não conseguem seguir o ritmo musical. Crianças gritam, tendo suas vozes perdidas em meio a barulheira do falatório e repertório dançante. Um choro ou outro em meio a risadaria, abraços distribuídos a atacado. Mãos ligeiras e sorrateiras que acariciam coxas escondidas pelo tampo das mesas, calcinhas ensopadas e cuecas apertadas com membros rigídos em seu interior. Um quebrar de vidro sempre dá uma celebração especial, voltando de vez a atenção dos espectadores para determinado ponto. Roupas parecidas fazem perceber a última tendência da moda. Sendo que existe sempre algum atrasado, que chega de mansinho, mas que não consegue driblar os olhares mais perscrutadores.

A algaravia faz passar despercebido um arroto estrondoso ou alguma flatulência mais violenta. Vestígios de comida são amassados por solas de sapatos e passam a fazer parte do piso. Pratinhos antes vazios, começam a sobrar salgados, revelando a saciedade dos glutões, sendo que é possível perceber, de acordo com a quantidade do tipo de salgado que sobra, quais foram os menos aapreciados. Flertes com menos discrição acontecem de forma corriqueira. Casais aproveitam o momento de frenesi e exorcizam suas angústias, revelando intimidades, destrinchando desafetos. Pares dançam unindo sudoreses e desejos libidinosos, em um roçar de coxas que deixam as genitálias face a face. Enquanto em uma cabine do sanitário, o que balança são os restos expelidos em um ato de vômito.

Um escorregão vira motivo de piada, sendo que crianças já rolam pelo chão despudoradamente. Alguns já se retiram, aproveitando a sobriedade que ainda lhes resta. Os que ficam são sobreviventes de uma caatarse dionisíaca. Levados pelo som e embriaguez, se tornam fantoches de uma magia entorpecente. Os olhares vítreos, brilham lacrimosos. Os trejeitos lânguidos fazem os empolgados se escorarem em qualquer parte quee lhes pareça sólida, na tentativa de se estruturar, mesmo em uma frustração de amálgama a algum objeto mineral. Os ouvidos passam a ignorar canções, a mente gira sem sair do lugar, tentando fazer o resto do corpo acompanhar. Equanto no fim do salão, alguém está sentado, curvado, com o olhar que se aprofunda no solo, calado e solitário, alheio ao show, mergulhado em um particularismo que consegue oprimir toda aquela socialização, criando um deserto em meio a população de festivos, tornando cada um dos dançantes, apenas um grão de areia que baaila conforme o vento supremo que os movimenta.