Bastianinha Roberta
O cabelo era aquela gafuringa, como dizia minha avó, mal arranjados debaixo de um lenço improvisado com um rasgo de lençol velho. Não bastasse o volume dos cabelos esbranquiçados, ali escondia também outras preciosidades: um taco de fumo de rolo amarrado numa trouxinha de pano e outros trecos. Era pequena a criatura, quase anã e andava sempre com um pau na mão.
Bastianinha Roberta vivia de casa em casa. Para ela todo mundo era conhecido. Não fazia mal a ninguém. Mas as crianças tinham medo! Talvez pelo gesto que tinha de mascar fumo. Torcia o fumo num paninho e mascava. Além do mais, soltava aquelas cusparadas em qualquer lugar em que estivesse.
Mudinha da Silva, sem dentes, lenço na cabeça, mascando fumo e com um pau na mão. Imaginem a figura! As crianças morriam de medo da Bastianinha Roberta. Corriam e escondiam.
Ela chegava desconfiadinha. Sentava perto da porta e ia logo pedindo café, num gesto com dois dedos. Ficava quarto de hora, depois ia para outra casa. Andava a cidade inteirinha, só ia embora quando sol já se escondia no horizonte.
Minha irmã Rosa tinha uns cinco anos de idade, e morria de medo da Bastianinha Roberta. Escondia mesmo! Qualquer cantinho que desse para ela entrar, servia para se enfiar. E ali ficava caladinha, até que outra fosse embora.
Certa vez, Bastianinha Roberta esteve em nossa casa. E a Rosa, é claro, sumiu! Mas como era costume ela fazer isso, ninguém se incomodou. Bastianinha Roberta ficou ali sentada na soleira da porta por um bom pedaço de hora, espiando minha mãe costurar. Pediu café, enroscou sua trouxa de fumo no canto da boca, mascou, mascou, cuspiu no pé do tamborete, depois foi se embora.
O sol entrou! Minha mãe chamou a reca de minino para tomar banho. Quando de repente deram pela falta da Rosa. Campearam a menina em tudo que foi canto da casa. Nada! A Rosa desapareceu! Já mandavam procurar nos vizinhos, quando alguém deu com a pobrezinha dormindo debaixo do guarda-roupa. Coitada! Dormiu de medo da Bastianinha Roberta.