Esta é uma história real que aconteceu com o meu sobrinho Miguel. Já contei algumas passagens sobre ele aqui na parte de humor. Ele era um menino muito espirituoso e cheio de vida, alegre e muito divertido. Só tinha um problema com ele. E é o que vou lhes contar agora. Um texto para reflexão, sobre a vida, sobre os filhos, sobre o amor.

     Minha cunhada quando casou estava grávida e havia forçado esta gravidez para o casamento. Na realidade o pai do Miguel nem queria casar na época, foi praticamente obrigado a isto pelo motivo da gravidez de Márcia, isto foi em 1989. Assim que o Miguel nasceu os dois se separaram, o amor era só de um lado e mesmo que minha cunhada tivesse feito de um tudo, não conseguiu conquistar o coração do marido. Assim, Márcia voltou para a casa dos pais com Miguel no colo, de malas e bagagens. O Miguel foi crescendo e sentia muito a ausência do pai. Que mal ia visitá-lo. Até que o pai de Miguel se casou novamente e teve neste relacionamento duas filhas, que eram toda a sua felicidade.      Miguel se ressentia da falta de carinho do pai. Sempre que ia passar férias na casa dele, sua avó paterna é quem lhe dava mais atenção e as tias também. Ele sempre via o pai as voltas com as irmãs mais novas e pensava.
- Porque meu pai não gosta de mim? Será que é porque eu nasci um menino, e ele prefere as meninas? - Ele vivia questionando a sua avó materna sobre isto.

     O certo é que a criança foi ficando cada dia mais triste e ressentida pela falta de amor que o pai lhe demonstrava. Quando completou exatos oito anos, Miguel passou a sentir fortes dores nas pernas. Minha sogra pensou se tratar de reumatismo, pois ele vivia com os pés no chão e levou-o ao médico. Após realizarem todos os exames, constatou-se que Miguel tinha desenvolvido uma Leucemia. Foram dois longos anos de tratamento e hospitais, minha sogra e minha cunhada praticamente viviam dentro do hospital, pois ele não saia mais de lá, por causa da baixa imunidade do organismo e constantes tratamentos. Miguel foi definhando aos poucos a olhos vistos, convivendo com a morte e com crianças de todas as idades. Nenhum tratamento resolvia. O médico e os psicólogos diziam que a doença de Miguel era de fundo psicológico, e havia sido desenvolvida pelo organismo dele para chamar a atenção do pai, que ele amava tanto, mas que não correspondia ao amor dele. Nesta ocasião o pai de Miguel conseguiu perceber, enfim, a gravidade da situação, e finalmente pode perceber quanto o seu desamor pelo filho lhe havia sido prejudicial. Seu sofrimento era visível, ele andava desesperado, pedindo a Deus pela recuperação do filho. Mas nada resolveu, e ao final de dois longos anos, quando Miguel completara dez anos, muito fraco e abatido, chegou a falecer. Não vi mais o pai de Miguel, mas dizem que ele nunca mais se recuperou da perda do filho, e se sente verdadeiramente culpado por tudo o que aconteceu. Hoje, infelizmente, só ficaram as saudades do Miguelzinho, criança esperta, inteligente, que só queria um pouco de amor e atenção daquele que mais idolatrava, que era seu pai.
O que eu quero com este conto real e triste é levar ao coração das pessoas, que mesmo que os casamentos cheguem ao fim, por qual motivo for, os filhos não poderão ser esquecidos jamais. As crianças necessitam de carinho, atenção e cuidados que somente os pais poderão verdadeiramente suprir. E hoje eu sei, que falta de amor, pode levar a morte sim, e espero que esta triste história da vida real, nunca mais volte a se repetir.



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Resultado:

As marcar ficaram e jamais sumirão desta família.
Minha sogra sofre até hoje com problemas psicológicos pela perda do neto em tão tenra idade. E também pelos momentos traumatizantes vividos nos dois anos de hospital.
Minha cunhada, mãe do Miguel, nunca mais se casou, ou teve filhos, hoje sofre com problemas psicológicos graves.
A irmã mais velha, também abriu mão de se casar e muito menos quis ter filhos.
Miguel era o único neto, único filho, único sobrinho. Até a chegada dos meus filhos, que hoje são, também, únicos, pois a família ficou estagnada.


 
Sandra Rosa
Enviado por Sandra Rosa em 26/01/2012
Reeditado em 26/01/2012
Código do texto: T3462226
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