FOI BOM PRA VOCÊS?
O meritíssimo os observava com o rosto retorcido. Apesar de tudo parecer tão igual nas Varas de Família. Mas, a maneira como aquele casal se comportava intrigava o tarimbado juiz... O longo exercício da magistratura lhe soprava aos ouvidos que naquela audiência o bicho iria pegar!
Na cena estavam Laura caput de fusca e Edgar fornalha – num tremendo bafafá, nas barbas do velho Juiz de Menores. E espiando tudinho ao lado... Tava Edlaura, com a cara de cachorro que peidou na igreja, não sabendo pra quem tomava partido. Antes que os palavrões se materializassem em socos, pernadas, unhadas e rabos de arraia, o doutor resolveu brandir o seu martelo e arremessá-lo com toda a força contra mesa!
- Isso aqui não é casa-da-mãe-joana, não! Disse o homi da capa preta batendo o martelo, no tampo da jacarandá.
O togado com isso procurava acabar de vez com toda a sem-vergonhice! Caro(a) leitor(a), tamanha era a baixaria que o homi-da-lei já pensava em enjaular até Edlaura, que ora mandava o Fornalha tomar lá e a Caput de fusca tomar ali!
- A culpa é sua seu sacripanta! Leitor(a), o adjetivo soou como um tapa na venta de Fornalha e ela ainda repetiu: - É sacripanta mermo!
- Não sou da sua laia, sua lambisgóia! leitor(a) só Jesus na causa, a bufunfa tava larva de vulcão!
Então, o DR os ameaçou com voz de prisão e aos poucos tudo foi voltando a normalidade. Mas, a arena era pequena para aqueles dois e o furdúncio recomeçou com a velocidade máxima. A Mãe e o pai solteiros ambos se acusavam... Num duelo pra decidir a quem cabia a culpa pelo aparecimento de Edlaura na vida dos dois. Uma novinha de 16. Grávida a cerca de 6. Crackuda a pelo menos 3. E primeira-dama na comunidade desde... A nem tinha mais de 21 entradas e fugas do xadrez!
A aborrecente levava uma vida com base na: “vida louca vida... Já que eu não posso te levar, quero que voce me leve” – nitroglicerina pura! Cá pra nós leitor(a): um currículo pra qualquer tira acolher, ou melhor, recolher aos bons costumes... Edlaura tinha uma frase de algibeira:
- A cadeia é longa. Mas, não é perpétua!
- Cale essa matraca, moleca! – disse-lhe o pai.
Mas, Laura enraivecida lhe disparou cobras e lagartos e veio com tudo na defesa da sua Edlaurinha, que era o Edgar cuspido e escarrado! Uma xerox! A mulher abriu o baú e desandou a lançar bosta no ventilador...
– Edgarzinho, a vizinhança desconfia se você gosta mesmo da fruta... O povo aumenta mais não inventa! Pensa que eles se esqueceram das suas orgias de sexo, drogas e rock’n roll!
- Eu? Você além de prostituta, piranha, puta... Agora comeu merda e enlouqueceu! Mulher, o seu caput não presta mais... Virou ferro velho!
– Boióla! Cabrunco! Maricón... Viadinho!
Laura batia forte em seu próprio peito, com se quisesse de lá tirar mais pólvora pra municiar a sua revolta. Então, novamente, cuspiu chumbo-grosso na fuça do Edgar:
- Sacripanta! Coisa ruim! Peste bubônica! Eu te salvei quando fui morar com você... Seu broxa!
Leitor(a), de repente, o choro oco da jovem sem-pai-nem-mãe surpreende e desarma todo mundo. E logo vem o desejo de filha:
- Pai... Mãe. Chega! Há muito tempo eu só to na pista por causa dos arranca-rabos de vocês! Parem de briga eu sei muito bem cuidar de mim...
Edlaurinha, trêmula primeiro enquadrou o todo-poderoso, que aos olhos da adolescente mais parecia um desajeitado árbitro de rinha-de-galo. Depois, correu a mão por todo a jacarandá do juiz. Rodopiou-se na cadeira de rodinhas. Ficou de pé. Então, fitou tête-à-tête o que restou de sua família e meteu o pé...
A Vossa Excelência... O Juiz sacou, novamente, de seu martelo e deu a pancada derradeira, que fez as pernas da jacarandá tremerem. E deu voz de prisão a Laura e a Edgard. E mandou os dois pra onde a filha chora e pai e mãe não vêem...