Levou embora até o que eu não tinha

O mundo é duro.

Eu ainda quero estar nele.

E lembro de ter dito isso pra mim algumas vezes por dia nos últimos anos da minha vida.

Não, nunca consegui me expressar diretamente sobre o que penso do mundo, da sociedade e dos costumes ao meu redor, gosto da minha maneira de expor minha opinião.

Gosto da minha forma de mostrar que eu estou aqui, e gosto da forma como escolhi para ocupar meu lugar.

Sempre fui uma pessoa sutil, mas minha delicadeza, eu descobri com o tempo de escrita, às vezes é um pouco ácida e irônica, às vezes brutal e cruel. Mas se lida com os olhos despercebidos não irá doer... Porque é a minha forma de ver o mundo e não quer dizer ser a correta. Apenas minha, eu não estou aqui para prová-la, para empurrá-la goela abaixo... Vou encaixando aos poucos.

Às vezes as pessoas não estão acostumadas que outras venham com palavras estranhas ao invés de socos na cara e sangue nas mãos.

Eu tentei ser agressiva. Eu tentei. Na verdade, estou tentando, confesso.

Mas sempre aprendi a ir aos poucos.

Quando está num quebra-cabeça, todas as peças são as certas. Não existe peça errada, apenas o tempo errado de escolhê-la. Estão todas as peças a sua frente, há apenas uma ordem lógica naquele caos todo, que você precisa ir descobrindo aos poucos para conseguir chegar ao fim e descobrir a figura do final, que você tinha escolhido na caixa, anteriormente, mas que, ao vivo e a cores - sua frente, e montado por você - tem um sabor totalmente diferente e é muito mais emocionante.

Não adianta você tentar forças as peças.

Porque estará aprisionado aqui até que um dia você encontre o motivo pelo qual você quer ficar aprisionado, e então encontrará a sequência, e encontrará algumas respostas, e encontrará saída para alguns problemas, outros vão ser mais fortes, e algumas revelações que descobrir ao observar a sequência lógica o farão entrar em choque com a sua realidade, mas não deve ser paralisado. Não me pergunte ainda qual o sentido de estar paralisado. Se andar estou movimentando minha realidade, e se parado ainda estou movimentando minha realidade, de alguma forma.

Talvez você descubra que ficar paralisado tem relação com as suas escolhas. E encontrará acalento também na dor, e entenderá o que é a dor. Mas, se não encontrar, um dia aprenderá a obedecer sua mãe e engolirá o choro, porque, vai ver, ele não servirá de nada no mundo que está vivendo.

E, depois das descobertas todas, o quebra-cabeça flui mais fácil, não sem dores de cabeça, mas entenderá suas escolhas erradas das peças - seja lá porque a peça tem uma cor parecida que você imagina a peça certa ter, ou pelo tamanho - mas entenderá, e apenas retrocederá o caminho, para voltar a andar, e dessa vez, tentar escolher o caminho certo, estando, enfim, de volta ao começo...

"E quando vejo o mar, existe algo que diz que a vida continua e se entregar é uma bobagem..." *

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* Renato Russo, Vento no Litora - Legião Urbana

Sabrina Vieira
Enviado por Sabrina Vieira em 25/07/2011
Reeditado em 11/10/2014
Código do texto: T3116646
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