O PODER DO SUPOSITÓRIO
Descobri, quase a duras penas, entre espanto e alívio o poder magnificente de uma solução retal de efeito laxativo conhecido pela alcunha de supositório.
Seus poderes vão muito além do simples aplicativo, inicia-se da decisão de inoculá-lo.
Decisão difícil, mas quando o sujeito encontra-se “enfezado”, tal ação faz-se necessária.
Assim aconteceu. Entrei na intimidade dos meus aposentos, disposta a aliviar meu interior do substrato que me preenchia.
Aquele seria um ato íntimo, pessoal e intransferível e é claro, de coragem.
Algumas coisas causam-nos rubor, mesmo quando conscientes do total abandono e segurança do local escolhido. Livre de outros olhares, não a salvo do próprio olhar inquisidor, meio zombeteiro, embora constrangido.
O princípio se deu pela respiração... Pausada, procurando em cada intervalo o equilíbrio ideal.
Após o primeiro ato, uma força estranha, do interior começou a vicejar.
Um desejo de expulsar, expurgar, começou a gritar alto. Atendi ao apelo e assustada percebi que o enrijecimento cedera lugar à calmaria e ao alívio.
Depois de todo o descolamento do infortúnio, já em perfeito equilíbrio fisiológico e psicológico voltei-me para aquele pequeno invólucro que cobria a solução miraculosa.Lá estava. Intacto, sobre o criadinho mudo, quase inofensivo.
Dei-me conta enfim do seu poder de persuasão. Ou ainda, de coação.
A simples visão transforma os órgãos mais tímidos,preguiçosos, retraídos, reprimidos forçando-os a tomar atitudes.
Penso ter encontrado um lugarzinho perfeito, quase um “santuário”, com o perdão da heresia, para ostentar tão poderoso aditivo. O criado mudo.
Sempre ao lado da cama, vigiando, atento ao menor sinal de preguiça. Olheiro e até companheiro, pois amigo não é necessariamente aquele que sempre te acaricia, é ainda, aquele que te alivia, seja espontaneamente ou forçosamente.
Valéria Escobar