Espírito de Páscoa!
O corredor estava totalmente enfeitado. Eram ovos de todas as marcas, de todas as cores, um mais tentador que o outro...Chocolate ao leite, com coco, meio amargo, ao creme, etc...
Ali se via reunidos os chocólotras mais convictos! A simples visão dava água na boca.
-Vou levar seis.
-Mas ontém você levou oito...
-Nunca é demais...
Na saida do supermercado...
-Moço...Me dá um real?
-Sai, sai menino...
-Um real para ajudar na caixinha de Páscoa...
-Sinto muito. Não sobrou nada. Ele puxou os bolsos para fora a fim de comprovar o que dizia.
Já no carro...
-Sacrilégio...Você podia ter dado o dinheiro...
-Para ele comprar drogas? Jamais!
-Um dos chocolates então...
-Não diga besteira. Ele certamente teria uma diarréia. Não está costumado. Teria que ser uma barrinha bem pequena...
-Pensando bem...
-Faria melhor se desse um prato de comida ou uma fruta...Mas certamente ele se ofenderia.
-Não entendi...Se ofenderia por que?
-Ora...Nessa época oferecer comida a um pobre é ofensa na certa. Todos esperam cestas mirabolantes carregadas de chocolates.
-Os pobres sonham com cestas assim, mas não esperam. Sabem que milagres não acontecem.
-Pois é...Mas se damos comida numa ocasião assim é bem capaz de jogarem na nossa cara.
-Que tristeza...Aninha, Eduardo! parem com essa bagunça no carro. Não comam tanto chocolate, depois não almoçam...
-Deixe as crianças comerem a vontade. Nada de almoço, depois pedimos uma piza.
No semáforo...
-Para com isso garoto! Que merda!
-Ele está limpando o vidro, de um trocado ao menino, anda...
-O pano está sujo. Vai ficar uma lama só...Puta que o pariu...!
-Moço...Tem um trocado?
-Toma. Deu uma moeda de cinquenta centavos ao menino. -Vá para casa esperar o coelhinho. Deixa esse serviço para quem sabe...
-Brigada moço, Deus te abençõe..
-Vai, vai...Odeio agradecimentos. Caridade se faz sem esperar por isso...
-Vamos embora. Temos que arrumar as cestas das crianças ainda...