O salto
Levantou, olhou para o seu espelho da vaidade e se maquiou. Sorriu ao finalizar a maquiagem porque viu que estava linda e extremamente atraente com um batom vermelho, sombra escura e um blush dando um ar de saúde para o seu rosto branco como neve. Arrumou os cabelos lisos, dividindo ao meio e os deixando cair nos ombros e nas costas. Pegou o vestido mais curto e provocante que possuía no seu closet, de vermelho sangue hipnotizador e colocou. Mas ela ainda não se sentia poderosa. Faltava o sapato de salto alto. O agente principal para sua transformação de mulher simples a uma mulher indiscutivelmente poderosa e elegante. Dos seus mais de trinta saltos, de diferentes cores e tamanhos, escolheu um preto, de 15 centímetros. Sentou-se na cama e os colocou delicadamente, sentindo visceral e mentalmente que estava mudando, transformava-se em outra mulher. Quando terminou de colocá-los, levantou-se e foi olhar no espelho de corpo inteiro como havia ficado. Deslumbrante e 15 centímetros mais alta, o seu reflexo era a sentença que havia se transformando. Confiante, pegou sua bolsa de grife, pôs seus óculos escuros e foi para a rua.
O sol beijava seus cabelos e as calçadas sentiam as faíscas de poder que ela sentia emanar de seus belos sapatos. Com a confiança que dominava seu belo corpo, começou a andar como se estivesse em uma passarela. Olhar no horizonte, braços graciosos e andar altivo, representando o auge da feminilidade de uma mulher. Os homens assoviavam ao vê-la passar e as mulheres viravam o pescoço para admirá-la e depois comentar com alguém sobre a linda mulher que estava desfilando pelas calçadas. Ela, no entanto, não sorria nem demonstrava qualquer tipo de reação ao que estava causando com toda a sua beleza. Quem sorria era seu ego, que se sentia alimentado com todos aqueles olhares, assovios e comentários. Se sentia cada vez mais poderosa e ignorava as pessoas ao seu redor, como se o mundo inteiro estivesse ali para servi-la e admirá-la na calçada que ela transformara em passarela. Ignorou tanto o ambiente que a cercava, com seu olhar fixo no horizonte, que não enxergou que havia uma pedra em seu caminho e acabou tropeçando, caindo do alto dos seus 15 centímetros de salto e toda aquele encanto e sensualidade se dissiparem em segundos.
No mesmo instante em que desabou na rua, ela acordou repentinamente assustada em cima do sofá, pois havia cochilado enquanto assistia um programa de moda. Olhou para os seus pés com a esperança de ver o belo sapato preto que usava, mas o que viu foi um singelo par de chinelos. Lembrou-se que não possuía um vestido vermelho, maquiagem, bolsa de grife e muito menos aquele belo sapato preto de salto alto. E chorou.