O sábio mudo

Ele não emitia sons com os lábios, porém seus olhos eram gentis e sua sabedoria imensa. Ele escolhera sair de toda a movimentação que a cidade agitada possuía e decidira viver onde se pode ouvir o canto dos pássaros quando o Sol reluz no horizonte. Um verdadeiro sábio.

Ele possuía um casebre de pau-a-pique dentro de uma mata fechada e quase esquecida. Ele conhecia de verdade o que era ter paz, apesar de conviver solitário. Ele passava os dias cuidando de sua horta, afinal ele precisava sobreviver. Além desta horta ele cultivava outra de livros, afinal ele sabia viver.

Vivia tranquilamente em seu lar sem incomodar ninguém e sem ser perturbado. Até que um dia apareceu um jovem machucado e maltrapilho. Deu-lhe água e comida e algumas roupas surradas que já não lhe serviam mais. Tratou de seus ferimentos e lhe deixou repousar em sua cama. O jovem, ao acordar, começou a agradecê-lo imediatamente, contudo o velho sábio era incapacitado de falar. O jovem, bastante sagaz, percebeu a deficiência do bondoso ancião e resolveu que iria ajudá-lo. Começou a vasculhar o casebre, até que achou uma velha revista; abriu-a e recortou palavras para formar frases de agradecimento. O sábio o observava, e notou um belo pingente em seu pescoço. Ele aprendera muito bem como reagir diante de situações delicadas, até que não agüentando mais, afagou os cabelos do jovem, o encarou nos olhos e o abraçou. O jovem ficou perplexo com a reação do velho sábio.

Então o velho puxou para baixo a gola de sua camisa desbotada e mostrou um pingente que tinha a foto de uma mulher linda. O jovem olhando aquele pingente desabou em lágrimas.

Sua mãe, artesã, fizera aquele colar a seu pai 30 anos atrás.

O ancião, nervoso, desabotoou o fecho do cordão e deu-o ao jovem. Ele abriu a pingente e viu que dentro dele continha um papel branco, delicadamente dobrado e já com bordas amareladas. Olhou para o sábio. Ele assentiu e o jovem abriu o papel. Letras finas e delicadas se desenhavam pelo papel com os dizeres:

Tu és um sábio gracioso! Agradeço aos céus tu seres mudo e não cego e por poderes conhecer o valor do silêncio... Fiz esse colar antes de termos nosso filho e sei que tu jamais suportarias não poder encará-lo nos olhos.

Com amor,

Sophia

O garoto entendeu por que sua mãe o mandara passear pelar montanhas do norte em sua última carta, esta escrita no seu leito de morte. E compreendeu, enfim, sua mensagem dizendo que deveria se tornar um homem de caráter com aquele que nunca fala demais.

Jefferson Messias
Enviado por Jefferson Messias em 28/11/2010
Reeditado em 30/11/2010
Código do texto: T2641981
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