De latinhas analfabetas à mineradora graduada

Bahia, a terra do carnaval, nem sempre é de festa. Principalmente para quem é obrigado a sobreviver do que sobra delas.

Um garoto de treze anos não sabe o que uma festa desses representa; mas sabe que as latinhas de alumínio jogadas pelas ruas, representam seu café da manhã no dia seguinte, quando a madrugada de festa fosse espantada pelo Sol.

A terra do cacau, da água de coco e da folia, não oferece oportunidades suficientes para os garotos que ganham a vida tendo a sua infância sendo preenchida de analfabetismo e luta dura; que confiam somente em sua própria agilidade para roubar frutas nas barracas da feira e com sua delicada simpatia, ao levar em uma carroça de mão as compras daquelas senhoras bondosas, que em troca sempre lhes dão algumas moedas que eventualmente se tornarão almoço.

Mas Diego possui, além disso, uma esperteza distinta e natural. Desde os seus onze anos, ele guarda suas latinhas impecáveis e que não são repetidas, em uma velha caixa de papelão, que um dia pertencera à uma geladeira. Sua mãe dizia, com uma voz serena dentro do barraco onde moravam, que quando não tivesse almoço ele teria de amassá-las e vendê-las. Diego não gostava da ideia de vender suas latinhas, mas teve de fazê-la quando um senhor requintado ofereceu muito dinheiro para obtê-las.

Ninguém, nem mesmo Diego conseguia entender o motivo de oferecerem tanto dinheiro por suas latinhas antigas. Mas sua esperteza o aconselhava a fazer isso; vendê-las para aquele senhor de terno e gravata.

Sua mãe mencionara algo como ele ser um colecionador milionário. Diego não se importava. Queria pegar o dinheiro, comprar uma casa para sua mãe, estudar e curtir as festas de carnaval sem ter de ficar se rastejando no chão atrás de latas para vender.

Após a venda de suas latas de alumínio, Diego e sua mão foram para outro estado onde ele pudesse estudar em uma escola melhor. Mais um conselho de sua esperteza, avisando que esse era o melhor caminho para se tornar igual ao colecionador milionário.

Com dezessete anos arranjou um emprego registrado, em uma loja de roupas perto da sua casa. Terminou o ensino médio e se interessou fortemente por fazer uma faculdade. Via que precisava se graduar em algo rentável.

Depois de quatro anos de graduação e mais três de especialização em economia, o Sr. Diego se tornou proprietário da maior mineradora de alumínio do Rio Grande do Sul. Tornou-se um belo homem rico, dono de suas próprias coleções milionárias e um dos responsáveis por organizar as festas de carnaval da Bahia. Mas com um detalhe : as festas não mais tem garotos catando latas, estão todos dormindo em suas camas, em um belíssimo orfanato.

Jefferson Messias
Enviado por Jefferson Messias em 28/11/2010
Código do texto: T2641973
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.