" O RETORNO"
“ O RETORNO”
O frescor da liberdade bafejava- lhe o aturdido rosto. Seus passos cansados, a coluna encurvada,as rugas profundas denunciavam a precoce senilidade que tomara conta daquele corpo ainda relativamente jovem.
As hediondas lembranças daquela funesta manhã ainda lhe perseguiam tais quais tenebrosos algozes,manejando contundentes e envenenadas tenazes!
Reviu-se, ainda moço deitado em seu leito de casal sobressaltado que estava diante das mórbidas visões que lhe assomavam à retina. Seres monstruosos,gigantescos, amorfos tomavam conta do pequenino recinto,delineando o tenebroso e apavorante quadro patológico.
Aterrorizado,agitado,trêmulo, a suar um líquido frio e viscoso, José punha-se a bradar tentando em vão afastar àquelas horripilantes imagens que brotavam de seu perturbado psiquismo.
O socorro fora chamado. Em poucos minutos o homem viu-se cerceado de seu fundamental direito ambulatório, tendo seu destino confinado às paredes frias,angustiadas, angustiantes da clínica psiquiátrica a que fora internado compulsoriamente.
Muito tempo se passou. José estava no pátio do manicômio deitado,vestindo seu imundo uniforme, quando em um dado momento foi acordado por Celso, jovem residente, que com ele simpatizara, compadecido que ficara com seu histórico médico.
Começam a conversar. O médico descobre-lhe aptidões dantes ignoradas e em pouco tempo as suas pinceladas ganham os salões mais afamados de arte contemporânea. Seus quadros expressam rostos famélicos, a desilusão da meninice perdida,o terror diante do desconhecido,numa fiel interpretação à escola expressionista alemã capitaneada pelo norueguês Edvard Munch, o qual ganhara o cenário de arte mundial ao pintar majestosamente “ O grito”.
O caminhar vagaroso, o bater descompassado do coração, anunciam a proximidade das cores vibrantes da varanda, onde por vezes ficava horas a fio a ouvir Chopin...
Uma moça de pele acobreada, cabelos negros e vastos, molha as plantas do vaso simples. Notando a presença do estranho, chama por sua mãe.
Marieta não tardou então em aparecer no quintal; e tão logo postou seus olhos negros no visitante, estacou como petrificada. Envolta no ignóbil manto do preconceito e da intolerância,repeliu com veemência seu ex-marido, ao dizer-lhe:
_ “ José, vá “simbora” daqui homem! Não existe cura para quem é doido!Estou casada agora com Paulo, tenho filhos, vamos nos deixe em paz!”
José então perdido em seus pensamentos, vagueia a esmo por entre ruas, alamedas e avenidas. De repente vislumbra em uma nobre e e elegante galeria uma de suas telas, iluminada que estava com visível destaque!
Dirige-se, timidamente à presença da formosa “ marchand”. Entabulam uma conversação sobre amenidades,sobre a honra imanente ao trabalho, ao desejo havido do direito natural de ser feliz...
Apaixonam-se. Todo pesadelo discriminatório se esvai em caudalosas e passionais ondas , concretizadas no frêmito e tropical frenesi das noites enluaradas...
A genialidade artística de José é reconhecida mundialmente... E em lugar de dúvidas e mágoas insculpidas em aquarelas, encontram-se o amor e a paixão manchando tapetes persas, tatuando telas, personificando-se em fabulosas esculturas...
Nota da Recantista: Dedicado aos médicos,que a exemplo do personagem Celso cunham o seu labor com os pomos dourados da esperança e de promessa de vida...
Dedicado “in memoriam” de meu tio Sérgio Ferraz Rocha e Octavio Ribeiro Ratto.
Também dedicado aos drs. Marcos Aurélio Peterlevitz, Antonio Nazareno de Castro Gonçalves, Awad Damha, Gilberto Lopes da Silva Júnior, Alexandre Ferreira Rosa, Tito Oliani, Alberto José Martins Ribeiro, Pedro Armellini...
Dedicado, outrossim aos Recantistas Médicos: Drs Roberto Pelegrino e Francismar Prestes Leal, e André Wambier.
Que Jesus os abençoe, INFINITAMENTE!!!!
* Trata-se de obra meramente ficcional...
Ivone Maria R. Garcia
24.05.10