A garota de faces tristes
Ela nunca viveu uma vida fácil. Desde pequena teve que aprender - da maneira mais difícil - a nefrentar problemas que não eram seus, eram dos adultos. Ela perdeu boa parte da infância, amadureceu muito cedo, mas nunca reclamou. Talvez ela não tivesse notado que a melhor fase de sua vida havia sido roubada sem que ela pudesse aproveitar.
A pequena garota cresceu com uma só companhia: seu pai. Nunca tinha se dado muito bem com a mãe ou com o irmão. Não reclamava de ser sozinha, o pai a bastava. Até o dia em que o viu atravessar a porta da sala para nunca mais voltar. Ela achou que seu mundo havia acabado. A vida não tinha mais cor e a garotinha passou a viver triste e escondida, fugindo das palavras rudes da mãe e do irmão.
Cresceu uma pessoa fria. Sem carinho dos pais, sem companhia, sem vontade de viver. Começou a se acostumar com as ofensas da mãe e o desprezo do irmão. Do pai, nunca mais tivera notícias, tentava esquece-lo para que a dor e a saudade parassem de apertar seu coração.
Viveu sem estímulos e sem sonhos. Desconhecia o significado da palavras felicidade. Não sorria nunca. Seu coração era amrgurado e triste e, talvez pela expressão sempre séria, ela afastava as pessoas.
Um sentimento estranho foi crescendo dentro dela. A garota não mais tão pequena, não conseguia resistir ao sufoco que sentia dentro do peito. Corria desesperada até seu banheiro e, trancada por horas, feria seu corpo inteiro com uma navalha. Depois, olhava para seus machucados e cicatrizes e pensava ser uma pessoa louca, mas aquilo a aliviada tanto... Parecia que a dor ia embora com o sangue derramado.
Todos em sua casa sabiam o que ela fazia. Todos sabiam que ela não estava normal e que precisava de ajuda, mas ignoravam esse fato. Não queriam admitir que havia uma pessoa depressiva embaixo do mesmo teto. E a acusavam mais e mais...
Certo dia, depois de chorar durante horas, resolveu ligar para o pai. Melhor seria não ter ligado a ouvir aquelas palavras duras. Chegou em casa tarde e, como de costume, sua mãe a xingava sem motivos e o irmão ri de sua tristeza. Sem pensar duas vezes, pegou todos os comprimidos da mãe e, trancada no quarto, tomou-os com água da pia do banheiro.
Na manhã seguinte, quando a porta foi arrombada, a garota estava deitada, num sono profundo do qual jamais acordaria. A cabeça escostada delicadamente no travesseiro com a face triste que aqueles que a olhavam só vieram perceber quando já era tarde demais.