" O TELEFONEMA" ( BASEADO EM UM FATO REAL)

Os livros estavam ali ocultos, em um canto obscuro da escrivaninha. Descurando de suas obrigações estudantis, Paulo passava os dias em um completo ócio dividindo-se entre assistir televisão e jogar videogame.

De súbito decide rumar até a sala de visitas. Apressado procura pelo catálogo telefônico e a esmo escolhe um nome que fosse idôneo a lhe apetecer à primeira vista.

Atrapalhado, começa a teclar com inédita dificuldade os dígitos do aparelho telefônico;iniciando por fim uma breve conversa:

_" Alô! O senhor viu um carro cor de gelo"?

O interlecutor responde com visível nervosismo; sua voz masculina está cansada, arfante,quase ininteligível:

_ " Pelo amor de Deus, me socorra! Estou com fortes dores no peito, no braço, estou enfartando! Meu nome é Julio Rocha moro na Avenida Higienopólis!"

Do outro lado,atarantado, o rapazola ouve as súplicas do enfermo e ato contínuo aciona o serviço de resgate. Transcorridas algumas horas , o jovem entra em contato com a corporação dos Bombeiros, o qual informa ter o paciente recebido os primeiros socorros na emergência de um afamado hospital paulistano.

Como a conduta dos médicos foi exitosa em relação ao quadro clínico apresentado, em breve espaço de tempo Julio estará recebendo cuidados hospitalares em um confortável quarto, podendo assim desfrutar da salutar companhia de seus parentes e amigos!

Decorrida uma semana do singular acontecimento Paulo telefona ao nosôcomio onde recém cirurgiado Julio encontra-se internado ;apresentando-se na dada ocasião como o jovem que naquela insólita tarde primaveril providenciara a indispensável ajuda humanitária.

A recepcionista lhe informa o nome da esposa do paciente, bem como suas características físicas. O jovem então empreende um hercúleo esforço e chega esbaforido ao saguão da Casa de Saúde , onde extasiado, vislumbra a bela mulher de Júlio.

Tímido, mal balbucia as palavras que se perdem no vazio;contudo a reduzida fala é suficiente para fazer aflorar o sorriso de gratidão nos rubros lábios de Violeta. Caminhando lado a lado os dois percorrem os intermináveis corredores do hospital e prontamente assomam ao dormitório de Júlio.

Este emocionado, com as lágrimas a deslizar o rosto magro e empaledecido,profere seu agradecimento com a voz sussurante e embargada:

_ "Muito obrigado por ter salvo a minha vida!"

Ao que Paulo, atalha:

_ "Obrigado digo eu, por ter o senhor me dado um sentido à minha existência"!

O adolescente outrora irresponsável, desinteressado,indolente torna-se um prodigioso e aplicado estudante;com notas que funcionam como verdadeiras metas a serem alcançadas pelos demais colegas do corpo discente!

O tempo segue em sua marcha inexorável. Pelos corredores hospitalares,andando por entre os exíguos espaços entre as macas,onde desesperados enfermos gritam suas lancinantes dores ou murmuram seus últimos suspiros, Paulo prossegue em sua trajetória profissional.

O rapaz alto, moreno,de olhos claros a todos acalenta com suas meigas e ternas palavras;consolidando diuturnamente sua excelsa carreira médica, graças à sua incontestável competência!

No canto direito da sala de jantar o quase centenário retrato de seu avô Eduardo, circundado com raro esmero por um medalhão parece assumir foros de alegria ao constatar que seu neto é mais um Anjo Médico a voejar pela Terra...

* Nota da Recantista: Dedico este meu conto " in memoriam" dos médicos Sérgio Ferraz Rocha (meu tio), e de Octavio Ribeiro Ratto. Dedico também aos médicos Marcos Aurélio Peterlevitz, Antonio Nazareno de Castro Gonçalves, Moses Zitron, Luiz Roberto Zitron, Awad Damha, Gilberto Lopes da Silva Júnior, Alexandre Ferreira Rosa, Alberto Martins Ribeiro , Pedro Armellini e Eugênia G. Carnide.

Dedicado também aos estudantes de Medicina Roberto Zitron, Gabriela Zitron e Andrei H. Catarino.

Dedico , outrossim, aos Recantistas médicos Roberto Pelegrino , André Wambier e Francismar Prestes Leal.

Que Jesus abençoe a todos, INFINITAMENTE!!!

São Paulo, 19 de março de 2010.

Ivone Maria R. Garcia