Uma Simples Mulher II Capítulo 9
Mudanças de Rumo.
A alegria continuava, intercalada, é claro, pelos acontecimentos do dia a dia.
Eu era a mais empolgada, fazia minhas meditações diariamente, no mínimo uma, mas na maior parte dos dias, fazia três meditações: dinâmica de manhã, kundalini à tarde e a prece à noite.
As duas amigas faziam de vez em quando: quando era possível faziam kundalini comigo à tarde.
No dia 11 de dezembro seria comemorado o aniversário do Bhagwan, com festas em todas as comunidades e centros de meditação.
A Celina nos deu a fita cassete com as musicas da celebração, que ela tinha trazido dos Estados Unidos; explicou qual teria que ser o horário e tudo o mais para que fizéssemos a celebração.
Só que ela não ia participar porque ia viajar com o marido e os filhos.
Eu e a Liliana fizemos a celebração na casa dela.
Dançamos e a felicidade desceu sobre mim como uma cachoeira: sentia-me pequena para receber tanto e tanto...
Esse momento foi o auge, foi o momento mais intenso de toda a alegria que eu vinha recebendo num crescendo durante todo o ano, desde que eu tinha iniciado as meditações!
Infelizmente, a partir daí viriam outras mudanças de rumo; tudo iria se modificar.
Nessa mesma hora em que eu e a Liliana comemorávamos, aconteceu o inexplicável: enquanto a Celina esperava o marido, pronta para irem viajar, o filho menor, com seis anos, feriu um olho com um garfo!
Um acidente grave; o menino corria o risco de perder a visão naquele olho.
O pai, oftalmologista, sempre tivera um cuidado extremo com as crianças, sempre temendo esse tipo de acidente! Até as pontinhas das sombrinhas e guarda chuvas ele protegia com uma massa especial; parece até que ele sentia o perigo rondando os olhos das crianças!
Ficamos profundamente abaladas com a coincidência de o acidente ter sido naquele dia e horário; hoje eu sei que não existem coincidências e que deve ter sido amenizado.
A Celina agora teria que se dedicar exclusivamente a cuidar do menino: ela até que reagiu bem, dizia que parecia estar anestesiada; não sentia nada.
Veio o Ano Novo, que foi comemorado sem a menor graça; e nas férias daquele ano cada uma de nós viajou com a sua família para um local diferente.
Nessa época, caíram-me nas mãos uns livrinhos da Seicho-No-Ie.
Comecei a lê-los e quando o fazia, uma luz muito suave vinha do alto e me envolvia, enchendo-me de paz.
Comecei a freqüentar as reuniões, mais para comprar os livros; eu gostava do ambiente, eles cultivavam a alegria, o riso, a gratidão.
Hoje eu percebo que a Vida me encaminhou para lá para que eu continuasse recebendo amparo, e não ficasse muito desesperada enquanto as mudanças iam ocorrendo.
A nossa professora de yoga, D. Carmem, também mudou de rumo.
Encontrou uma filosofia nova, não sei dizer o nome, e mudou radicalmente.
Parou com as aulas de yoga, nem fez mais as reuniões da Ponte para a Liberdade.
A Celina só me disse que nesse novo caminho não havia rituais de espécie alguma, que era muito diferente de tudo o que conhecíamos.
E também a Celina mudou muito: depois do acidente do filho, afastou-se mais do Bhagwan, parou com as meditações e conseqüentemente afastou-se de mim.
Lá nos Estados Unidos as coisas também não andavam bem: houve problemas entre os discípulos mais chegados do Bhagwan, uma espécie de cisão; o ashram do Oregon começou a ser perseguido pelo governo do país, creio que por problemas com os impostos e pela presença de muitos estrangeiros com permissões vencidas; o Mestre chegou a ficar alguns dias na prisão!
Imaginem um homem tão sensível que os visitantes não podiam usar perfumes em suas palestras; que vivia protegido e cuidado pelos discípulos como se fosse uma jóia rara; vestido de peles e adornado com pedras preciosas; colecionava RollsRoyces, pois o dinheiro jorrava para ele como uma cascata, imaginem esse homem preso numa prisão comum!
Foram poucos dias, mas quando foi solto, sua saúde estava seriamente abalada.
As noticias eram desencontradas, dadas por uma imprensa que deturpava os fatos.
Eu escrevia cartas para todos os centros de meditação do Brasil: Rio, Brasília, Porto Alegre.
Soube que o Soma havia sido fechado. Todos me respondiam para continuar meu trabalho interior, pois que o exterior era ilusório e passageiro!
O Mestre passou a viajar de país em país; todos lhe negavam asilo.
Passei a me ligar mais à Seicho-No-Ie; ainda fazia as meditações, mas fui espaçando; já não sentia aquela alegria, a energia havia diminuído: se não fosse o Mestre Masaharu Tanighuchi, com suas palavras de Luz, eu teria ficado no mais completo desespero!
Apesar de tudo o que já tinha sentido e aprendido, ainda não aprendera a confiar em minha luz interior.
Dia 11 de dezembro, sábado
Clima de festa, aniversário do Bhagwan!
Ao meio dia fui à casa da Liliana e fizemos o satsang e a celebração. Foi uma cachoeira de Luz e amor!
Dia 12 de dezembro, domingo
Domingo chuvoso. Ontem à noite eu e o Mauro brigamos, ainda fico irritada com o modo pelo qual ele me toca. Hoje estou me sentindo completamente vazia, mas mesmo assim é um vazio abençoado! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Mil vezes!
Dia 13 de dezembro, segunda-feira
Tenho a certeza de que tudo vai passar, os problemas vão se dissolver e tudo vai se normalizar. Mil vezes, obrigada!
Dia 14 de dezembro, terça-feira
Eu e a Liliana fomos à casa da Celina; o filho dela machucou o olho e foi bem no dia do aniversario do Bhagwan. Não sei explicar mais nada! Só sei que precisamos confiar, mas ninguém confia!
Dia 15 de dezembro, quarta-feira
Dormi profundamente a noite inteira e acordei com uma luz suave dourada me envolvendo. Era uma claridade difusa, aconchegante e com uma alegria sutil. Obrigada!
Dia 16 de dezembro, quinta-feira
A alegria não foi embora, ela me acompanha! Obrigada!
Dia 17 de dezembro, sexta-feira
Fui grosseira na escola durante a reunião do conselho. Não gosto quando isso acontece, mas algumas vezes é inevitável! Não fiz dinâmica; a kundalini foi interrompida! À noite fomos comer pizza.
Dia 18 de dezembro, sábado
Fiz dinâmica. Fizemos sexo e foi bom: é dando que se recebe! À tarde a Sandy fez kundalini comigo. Foi ótimo! Obrigada!
Dia 19 de dezembro, domingo
A manha foi cintilante! Já a tarde foi pesada e a noite também. Fomos à casa da Celina (eu, o Mauro e as crianças). O filhinho dela já está ótimo, brincando! Ainda não se sabe se ficará com seqüelas.
Nesse meio tempo, férias, Natal, Ano Novo: 1983!!
Tudo caminhando, crescendo e prosperando!
Muito obrigada!
continua
Mudanças de Rumo.
A alegria continuava, intercalada, é claro, pelos acontecimentos do dia a dia.
Eu era a mais empolgada, fazia minhas meditações diariamente, no mínimo uma, mas na maior parte dos dias, fazia três meditações: dinâmica de manhã, kundalini à tarde e a prece à noite.
As duas amigas faziam de vez em quando: quando era possível faziam kundalini comigo à tarde.
No dia 11 de dezembro seria comemorado o aniversário do Bhagwan, com festas em todas as comunidades e centros de meditação.
A Celina nos deu a fita cassete com as musicas da celebração, que ela tinha trazido dos Estados Unidos; explicou qual teria que ser o horário e tudo o mais para que fizéssemos a celebração.
Só que ela não ia participar porque ia viajar com o marido e os filhos.
Eu e a Liliana fizemos a celebração na casa dela.
Dançamos e a felicidade desceu sobre mim como uma cachoeira: sentia-me pequena para receber tanto e tanto...
Esse momento foi o auge, foi o momento mais intenso de toda a alegria que eu vinha recebendo num crescendo durante todo o ano, desde que eu tinha iniciado as meditações!
Infelizmente, a partir daí viriam outras mudanças de rumo; tudo iria se modificar.
Nessa mesma hora em que eu e a Liliana comemorávamos, aconteceu o inexplicável: enquanto a Celina esperava o marido, pronta para irem viajar, o filho menor, com seis anos, feriu um olho com um garfo!
Um acidente grave; o menino corria o risco de perder a visão naquele olho.
O pai, oftalmologista, sempre tivera um cuidado extremo com as crianças, sempre temendo esse tipo de acidente! Até as pontinhas das sombrinhas e guarda chuvas ele protegia com uma massa especial; parece até que ele sentia o perigo rondando os olhos das crianças!
Ficamos profundamente abaladas com a coincidência de o acidente ter sido naquele dia e horário; hoje eu sei que não existem coincidências e que deve ter sido amenizado.
A Celina agora teria que se dedicar exclusivamente a cuidar do menino: ela até que reagiu bem, dizia que parecia estar anestesiada; não sentia nada.
Veio o Ano Novo, que foi comemorado sem a menor graça; e nas férias daquele ano cada uma de nós viajou com a sua família para um local diferente.
Nessa época, caíram-me nas mãos uns livrinhos da Seicho-No-Ie.
Comecei a lê-los e quando o fazia, uma luz muito suave vinha do alto e me envolvia, enchendo-me de paz.
Comecei a freqüentar as reuniões, mais para comprar os livros; eu gostava do ambiente, eles cultivavam a alegria, o riso, a gratidão.
Hoje eu percebo que a Vida me encaminhou para lá para que eu continuasse recebendo amparo, e não ficasse muito desesperada enquanto as mudanças iam ocorrendo.
A nossa professora de yoga, D. Carmem, também mudou de rumo.
Encontrou uma filosofia nova, não sei dizer o nome, e mudou radicalmente.
Parou com as aulas de yoga, nem fez mais as reuniões da Ponte para a Liberdade.
A Celina só me disse que nesse novo caminho não havia rituais de espécie alguma, que era muito diferente de tudo o que conhecíamos.
E também a Celina mudou muito: depois do acidente do filho, afastou-se mais do Bhagwan, parou com as meditações e conseqüentemente afastou-se de mim.
Lá nos Estados Unidos as coisas também não andavam bem: houve problemas entre os discípulos mais chegados do Bhagwan, uma espécie de cisão; o ashram do Oregon começou a ser perseguido pelo governo do país, creio que por problemas com os impostos e pela presença de muitos estrangeiros com permissões vencidas; o Mestre chegou a ficar alguns dias na prisão!
Imaginem um homem tão sensível que os visitantes não podiam usar perfumes em suas palestras; que vivia protegido e cuidado pelos discípulos como se fosse uma jóia rara; vestido de peles e adornado com pedras preciosas; colecionava RollsRoyces, pois o dinheiro jorrava para ele como uma cascata, imaginem esse homem preso numa prisão comum!
Foram poucos dias, mas quando foi solto, sua saúde estava seriamente abalada.
As noticias eram desencontradas, dadas por uma imprensa que deturpava os fatos.
Eu escrevia cartas para todos os centros de meditação do Brasil: Rio, Brasília, Porto Alegre.
Soube que o Soma havia sido fechado. Todos me respondiam para continuar meu trabalho interior, pois que o exterior era ilusório e passageiro!
O Mestre passou a viajar de país em país; todos lhe negavam asilo.
Passei a me ligar mais à Seicho-No-Ie; ainda fazia as meditações, mas fui espaçando; já não sentia aquela alegria, a energia havia diminuído: se não fosse o Mestre Masaharu Tanighuchi, com suas palavras de Luz, eu teria ficado no mais completo desespero!
Apesar de tudo o que já tinha sentido e aprendido, ainda não aprendera a confiar em minha luz interior.
Dia 11 de dezembro, sábado
Clima de festa, aniversário do Bhagwan!
Ao meio dia fui à casa da Liliana e fizemos o satsang e a celebração. Foi uma cachoeira de Luz e amor!
Dia 12 de dezembro, domingo
Domingo chuvoso. Ontem à noite eu e o Mauro brigamos, ainda fico irritada com o modo pelo qual ele me toca. Hoje estou me sentindo completamente vazia, mas mesmo assim é um vazio abençoado! Obrigada! Obrigada! Obrigada! Mil vezes!
Dia 13 de dezembro, segunda-feira
Tenho a certeza de que tudo vai passar, os problemas vão se dissolver e tudo vai se normalizar. Mil vezes, obrigada!
Dia 14 de dezembro, terça-feira
Eu e a Liliana fomos à casa da Celina; o filho dela machucou o olho e foi bem no dia do aniversario do Bhagwan. Não sei explicar mais nada! Só sei que precisamos confiar, mas ninguém confia!
Dia 15 de dezembro, quarta-feira
Dormi profundamente a noite inteira e acordei com uma luz suave dourada me envolvendo. Era uma claridade difusa, aconchegante e com uma alegria sutil. Obrigada!
Dia 16 de dezembro, quinta-feira
A alegria não foi embora, ela me acompanha! Obrigada!
Dia 17 de dezembro, sexta-feira
Fui grosseira na escola durante a reunião do conselho. Não gosto quando isso acontece, mas algumas vezes é inevitável! Não fiz dinâmica; a kundalini foi interrompida! À noite fomos comer pizza.
Dia 18 de dezembro, sábado
Fiz dinâmica. Fizemos sexo e foi bom: é dando que se recebe! À tarde a Sandy fez kundalini comigo. Foi ótimo! Obrigada!
Dia 19 de dezembro, domingo
A manha foi cintilante! Já a tarde foi pesada e a noite também. Fomos à casa da Celina (eu, o Mauro e as crianças). O filhinho dela já está ótimo, brincando! Ainda não se sabe se ficará com seqüelas.
Nesse meio tempo, férias, Natal, Ano Novo: 1983!!
Tudo caminhando, crescendo e prosperando!
Muito obrigada!
continua