Uma Simples Mulher II Capitulo 4
Sobreviver Sem Enlouquecer.
Eu dançava nas meditações e minha vida começou a dançar também.
Isso em todos os sentidos: no sentido da felicidade que eu sentia durante o dia, como se a música continuasse movimentando o meu corpo; e no sentido de meu relacionamento com meu marido e com as crianças.
As minhas duas amigas tinham voltado a se aproximar e quase todas as tardes vinham à minha casa: conversávamos, tomávamos lanche e depois fazíamos a meditação kundalini.
Eu fazia três meditações por dia; havia livros e fitas cassete por toda parte e agora a foto daquele homem barbudo estava na parede!
Meu marido não entendia, não queria entender; estava enciumado porque eu não era mais a mesma mulher passiva, que só sabia viver para ele; eu estava diferente!
Eu dava a eles o que podia: comprava roupas, ia ao supermercado, supervisionava a empregada.
Mas eles sentiam que a minha verdadeira atenção não estava neles e sim no meu processo de crescimento.
Podem chamar isso de egoísmo, irresponsabilidade, não sei; eu chamaria de “priorizar a minha sobrevivência”.
Eu tinha a mais absoluta certeza de que se eu não fizesse alguma coisa por mim, eu ficaria tão louca como a minha mãe; isso estava gravado desde minha infância e eu tinha pavor da loucura, de ficar a mercê das pessoas, num sanatório tomando remédios e não ter mais o controle da minha própria razão e consciência.
Tinha visto isso muito de perto, tinha sofrido o drama de minha mãe e não podia nem pensar em ter um destino parecido com o dela.
Meu marido estava perdendo o controle sobre mim; ele acusava as minhas amigas, culpava as meditações, dizia que eu estava ficando louca, que aquilo era uma “lavagem cerebral”.
Foram muitas brigas, choros, discussões, e as verdades do nosso relacionamento começaram a aparecer diante dos nossos olhos.
Dia 29 de abril, quinta feira
Aniversário da Liliana. A tarde foi boa, mas com muito cansaço. Não fiz kundalini porque fui a casa dela e comi demais. Conversei com a D. Carmem e contei a ela sobre as meditações. A Celina quis ler a carta que recebi do centro de meditação do Rajneesh.
Dia 30 de abril, sexta feira
Tarde boa. Relaxei. Liliana trouxe o jornalzinho do Bhagwan.
Dia 01 de maio, sábado
Dia ótimo! Trabalhei na casa e na cozinha. As crianças adoram quando eu cozinho! Descansei.
Dia 02 de maio, domingo
Dia radiante de luz e sol. Trabalhei com o almoço, descansei à sombra da goiabeira. Briguei com o Mauro e fiz as pazes...
Dia 03 de maio, segunda feira
Parece que a alegria vem chegando, sinto isso. Comecei a tomar as pílulas anticoncepcionais hoje. Sinto isso como uma violência contra o meu corpo.
Dia 04 de maio, terça feira
Dia normal, a alegria decaiu... Como oscila o meu humor! Boa disposição, mas não para meditar. Fiz kundalini e a prece, mas não senti aconchego.
Dia 05 de maio, quarta feira
Noto que há uma ansiedade constante em mim, que não consigo eliminar, nem sei a que atribuir. Brigo com as crianças, não fiz kundalini. Quero chegar em casa (estou na escola agora), tomar um banho e fazer a prece.
Dia 06 de maio, quinta feira
Ontem fiz a prece e fui dormir; não quis sexo. Acordei às três da manhã, com náuseas por causa da pílula. Hoje fiz kundalini com a Celina e a Liliana. Agora, tal como na segunda feira, dia 26, sinto um peso na nuca, depressão e cansaço. Estou na escola e não há nada de bom em perspectiva. A sensação negativa está aqui de novo! Parece que há um ciclo.
Dia 07 de maio, sexta feira
Houve reunião de conselho; o dia todo a sensação negativa, ansiedade. Parece que algo me obriga a correr.
Dia 08 de maio, sábado
Tudo igual. À tarde, depois da kundalini, tive dor de cabeça. Ã noite, fomos ao baile no clube, chamado “o aristocrático”. Eu me sinto meio selvagem, diferente das outras pessoas, na verdade me sinto um peixe fora d'água naquele clube.
Dia 09 de maio, domingo
Almoçamos no restaurante, todos juntos. Meu filho Armando chegou de viagem ( foi competir natação em São Jose dos Campos) bravo, irritado, cansado. À noite fiz a prece e fui dormir cedo.
Dia 10 de maio, segunda feira
Um bode danado! Não estamos nos entendendo na cama, eu e o Mauro! Não quero mais tomar pílulas, acho que não quero mais sexo! Não sei nada! Estou no auge da confusão!
Apesar de fazermos as meditações da tarde quase sempre juntas, eu estava me sentindo afastada das duas amigas.
A Celina começou a pensar em participar de uma excursão que o Soma estava organizando para os EEUU para ver o Rajneesh.
A Liliana também estava pensando em ir, mas as duas não queriam falar comigo porque sabiam que eu ficaria desesperada para ir, não teria condições financeiras nem emocionais de enfrentar uma viagem dessas, ainda mais com a instabilidade pela qual passava meu casamento.
Elas sofreram para tomar uma decisão sobre essa viagem: arriscavam seus casamentos; havia toda uma barreira social, as pessoas consideravam o Rajneesh um louco depravado e seus seguidores uns fanáticos; essa era a imagem que era passada em jornais e revistas.
A Liliana resolveu ficar; a Celina resolveu ir!
E eu só fiquei sabendo depois de tudo resolvido: elas não quiseram perturbar ainda mais o meu tão perturbado casamento!
continua....
Sobreviver Sem Enlouquecer.
Eu dançava nas meditações e minha vida começou a dançar também.
Isso em todos os sentidos: no sentido da felicidade que eu sentia durante o dia, como se a música continuasse movimentando o meu corpo; e no sentido de meu relacionamento com meu marido e com as crianças.
As minhas duas amigas tinham voltado a se aproximar e quase todas as tardes vinham à minha casa: conversávamos, tomávamos lanche e depois fazíamos a meditação kundalini.
Eu fazia três meditações por dia; havia livros e fitas cassete por toda parte e agora a foto daquele homem barbudo estava na parede!
Meu marido não entendia, não queria entender; estava enciumado porque eu não era mais a mesma mulher passiva, que só sabia viver para ele; eu estava diferente!
Eu dava a eles o que podia: comprava roupas, ia ao supermercado, supervisionava a empregada.
Mas eles sentiam que a minha verdadeira atenção não estava neles e sim no meu processo de crescimento.
Podem chamar isso de egoísmo, irresponsabilidade, não sei; eu chamaria de “priorizar a minha sobrevivência”.
Eu tinha a mais absoluta certeza de que se eu não fizesse alguma coisa por mim, eu ficaria tão louca como a minha mãe; isso estava gravado desde minha infância e eu tinha pavor da loucura, de ficar a mercê das pessoas, num sanatório tomando remédios e não ter mais o controle da minha própria razão e consciência.
Tinha visto isso muito de perto, tinha sofrido o drama de minha mãe e não podia nem pensar em ter um destino parecido com o dela.
Meu marido estava perdendo o controle sobre mim; ele acusava as minhas amigas, culpava as meditações, dizia que eu estava ficando louca, que aquilo era uma “lavagem cerebral”.
Foram muitas brigas, choros, discussões, e as verdades do nosso relacionamento começaram a aparecer diante dos nossos olhos.
Dia 29 de abril, quinta feira
Aniversário da Liliana. A tarde foi boa, mas com muito cansaço. Não fiz kundalini porque fui a casa dela e comi demais. Conversei com a D. Carmem e contei a ela sobre as meditações. A Celina quis ler a carta que recebi do centro de meditação do Rajneesh.
Dia 30 de abril, sexta feira
Tarde boa. Relaxei. Liliana trouxe o jornalzinho do Bhagwan.
Dia 01 de maio, sábado
Dia ótimo! Trabalhei na casa e na cozinha. As crianças adoram quando eu cozinho! Descansei.
Dia 02 de maio, domingo
Dia radiante de luz e sol. Trabalhei com o almoço, descansei à sombra da goiabeira. Briguei com o Mauro e fiz as pazes...
Dia 03 de maio, segunda feira
Parece que a alegria vem chegando, sinto isso. Comecei a tomar as pílulas anticoncepcionais hoje. Sinto isso como uma violência contra o meu corpo.
Dia 04 de maio, terça feira
Dia normal, a alegria decaiu... Como oscila o meu humor! Boa disposição, mas não para meditar. Fiz kundalini e a prece, mas não senti aconchego.
Dia 05 de maio, quarta feira
Noto que há uma ansiedade constante em mim, que não consigo eliminar, nem sei a que atribuir. Brigo com as crianças, não fiz kundalini. Quero chegar em casa (estou na escola agora), tomar um banho e fazer a prece.
Dia 06 de maio, quinta feira
Ontem fiz a prece e fui dormir; não quis sexo. Acordei às três da manhã, com náuseas por causa da pílula. Hoje fiz kundalini com a Celina e a Liliana. Agora, tal como na segunda feira, dia 26, sinto um peso na nuca, depressão e cansaço. Estou na escola e não há nada de bom em perspectiva. A sensação negativa está aqui de novo! Parece que há um ciclo.
Dia 07 de maio, sexta feira
Houve reunião de conselho; o dia todo a sensação negativa, ansiedade. Parece que algo me obriga a correr.
Dia 08 de maio, sábado
Tudo igual. À tarde, depois da kundalini, tive dor de cabeça. Ã noite, fomos ao baile no clube, chamado “o aristocrático”. Eu me sinto meio selvagem, diferente das outras pessoas, na verdade me sinto um peixe fora d'água naquele clube.
Dia 09 de maio, domingo
Almoçamos no restaurante, todos juntos. Meu filho Armando chegou de viagem ( foi competir natação em São Jose dos Campos) bravo, irritado, cansado. À noite fiz a prece e fui dormir cedo.
Dia 10 de maio, segunda feira
Um bode danado! Não estamos nos entendendo na cama, eu e o Mauro! Não quero mais tomar pílulas, acho que não quero mais sexo! Não sei nada! Estou no auge da confusão!
Apesar de fazermos as meditações da tarde quase sempre juntas, eu estava me sentindo afastada das duas amigas.
A Celina começou a pensar em participar de uma excursão que o Soma estava organizando para os EEUU para ver o Rajneesh.
A Liliana também estava pensando em ir, mas as duas não queriam falar comigo porque sabiam que eu ficaria desesperada para ir, não teria condições financeiras nem emocionais de enfrentar uma viagem dessas, ainda mais com a instabilidade pela qual passava meu casamento.
Elas sofreram para tomar uma decisão sobre essa viagem: arriscavam seus casamentos; havia toda uma barreira social, as pessoas consideravam o Rajneesh um louco depravado e seus seguidores uns fanáticos; essa era a imagem que era passada em jornais e revistas.
A Liliana resolveu ficar; a Celina resolveu ir!
E eu só fiquei sabendo depois de tudo resolvido: elas não quiseram perturbar ainda mais o meu tão perturbado casamento!
continua....