Uma Simples Mulher II Capítulo 1
Esposas Aventureiras.
Como sempre, os primeiros amigos fiéis que me apareceram foram os livros.
O primeiro que me caiu nas mãos foi um livrinho sobre “Poder Mental”. Em seguida comecei a ler tudo o que encontrava na prateleira de auto-ajuda: Joseph Murphy e outros no gênero.
Descobri um autor interessante que falava sobre consciência cósmica: Vernon Howard.
O lado religioso começou a ser vislumbrado: Krisnamurti, Aldous Huxley, Lobsang Rampa.
Uma salada mista, com tudo que eu havia lido anteriormente sobre filosofia, educação, psicologia, fora os romances e poesias!
Minha mente parecia uma esponja, absorvendo tudo na sua sede de conhecimento, mas sem separar, sem discriminar e eu acabava misturando e confundindo muita coisa.
Entrei para a Ordem Rosacruz; recebia os fascículos pelo correio e estudava.
Ao mesmo tempo, lia sobre espiritismo, ocultismo, parapsicologia, hipnose, macrobiótica, yoga.
Comprei um livro do Professor Hermógenes e comecei a praticar a hatha yoga sozinha em casa.
Todo e qualquer assunto relacionado à busca espiritual e autoconhecimento recebia meu interesse.
O que me movia era uma sensação de que algo estava faltando em minha vida e ao mesmo tempo parecia que algo me ameaçava; uma vaga sensação de pânico.
Aparentemente eu vivia bem minha vida de esposa, dona de casa, mãe, professora.
Tudo corria normalmente, mas havia uma espécie de inconsciência; parecia que a vida ia acontecendo à minha revelia, sem a minha verdadeira participação, sem intensidade, sem colorido.
Parecia-me estar sempre rodeada por um peso, uma tristeza difusa; nada me animava de verdade, nem me interessava realmente.
E assim eu ia vivendo, com pequenos interesses que logo morriam: as aulas de violão, aulas de costura; eram tentativas vãs de preencher o vazio e eu logo desistia.
O nascimento das crianças tinha sido um alivio temporário à tensão interior que agora voltava com maior intensidade.
Nessa turma de amigos que freqüentávamos conheci duas pessoas que desempenharam um papel importante nessa fase da minha jornada: a Liliana, que era casada com um engenheiro, professor do Mauro na Faculdade e a Celina, casada com um médico.
Eram amizades que vieram através dos maridos, das festas, e que depois foram se aprofundando pelos interesses comuns.
A Celina era advogada, mas não exercia a profissão; a Liliana era dona de casa e ambas estavam vivendo a mesma crise de autoconhecimento que eu vivia.
Tudo começou quando, numa festinha na casa da Liliana, eu falei que pertencia à Ordem Rosacruz. (hoje não mais pertenço à Ordem, onde muito aprendi).
A Celina se interessou; as duas faziam yoga com uma professora muito conceituada, e eu passei a ir também.
Então elas me convidaram para participar de outras reuniões da chamada Ponte Para a Liberdade que a mesma professora liderava e que ensinava sobre os Mestres Ascencionados e os 7 Raios de Luz.
E assim íamos tentando aprender mais sobre a vida e sobre nós mesmas.
Um dia, em meio à rotina do dia a dia e já na desesperança de encontrar algo que preenchesse aquele vazio e aplacasse as sensações ruins que eu sentia, caiu-me nas mãos um livro que iria desencadear toda uma nova experiência em minha vida: chamava-se “Meditação, a Arte do Êxtase”; o autor era um hindu, Bhagwan Shre Rajneesh.
Assim que comecei a ler, senti uma identificação profunda; algo estava acordando em meu intimo, com se eu já soubesse e concordasse com tudo o que ele falava.
Fiquei admirada pelo seu método de meditação, que para mim era algo revolucionário: em vez de ficar sentada, parada, tentando relaxar, respirar e não pensar em nada, coisas que eu já tentara na yoga sem o menor sucesso, ele falava em dançar, movimentar o corpo, expressar-se, gritar, fazer catarses.
Havia endereços de Centros de Meditação na Índia e também falava sobre fitas cassetes com as musicas para as meditações.
Continuei a ler, comprei outros livros dele, e me perguntava como fazer para ter acesso às musicas e às técnicas de meditação que ele descrevia.
Conversando com a Celina perguntei se ela gostaria de ler um livro que realmente poderia mexer com a sua cabeça; ela leu, passou para a Liliana e como agora éramos três, as coisas começaram a se movimentar! Isso foi em 1981.
Em julho a Liliana assistiu a um programa na TV onde uns “rapazes esquisitos”, segundo ela, anunciaram que viria ao Brasil um médium do hindu Rajneesh e que haveria uma palestra em SanPeter.
Pronto! Tudo se revolucionou!
Como fazer para irmos assistir a essa palestra?
Eu, esposa pacata e submissa, jamais poderia pensar em ir a SanPeter sozinha, ainda mais para esse fim; a Liliana tinha a mesma dificuldade; já a Celina era mais independente; contatou uma tia onde poderíamos dormir e após movermos céus e terras, após mil hesitações, explicações aos maridos, complicações e reclamações, conseguimos ir.
E lá fomos as três para SanPeter, de ônibus, sem saber direito o que era, como era e onde era!
Foi até engraçado: eu e a Celina de calças jeans e a Liliana, muito chic, vestindo um longo mantô cor de vinho!
Fomos para o apartamento da tia da Celina, e em seguida tomamos um taxi para o tal endereço onde seria a palestra, na Avenida Paulista.
Entramos no tal anfiteatro, e que horror!
As três respeitáveis senhoras vindas do interior, onde tinham ido parar?!
Uns caras esquisitos, vestidos com longos mantos vermelhos, com colares de contas enormes penduradas no pescoço! Uma loucura!
Também outras pessoas esquisitas, caras estranhas, com aparência de gente viciada em tóxicos, mal vestidos, barbudos, hippies. Só algumas poucas pessoas com jeito normal como nós...
No salão sentamos todos no chão e passaram um tape com passagens de Rajneesh falando a seus seguidores na Índia.
Em seguida um homem alto, magro, barbudo, apresentou-se para falar: Teerta.
A partir daí as sensações de medo e estranheza desapareceram: entreguei-me à doçura e ao mesmo tempo à firmeza daquele homem; fiquei num estado meio que hipnótico; nada me espantava, parecia que eu estava em casa, em meio à verdadeira família de minha alma.
Ele deu umas técnicas de grupo onde nos movimentávamos pelo salão; eu me entreguei ao exercício, sem pensar em mais nada e lágrimas escorriam pelas minhas faces.
Depois eu soube que cada uma de nós tinha reagido à sua maneira: a Celina tinha ficado o tempo todo seguindo o Teerta, como que querendo perceber e sentir a sua pessoa através de uma observação acurada; já a Liliana tinha ficado o tempo todo olhando para tudo aquilo cheia de profundo espanto e aversão!
Voltamos para o apartamento da tia, onde iríamos dormir, muito abaladas por emoções contraditórias.
Haveria um curso liderado pelo Teerta no Centro de Meditação Soma, que duraria cinco dias, a um preço que para mim era muito alto.
Não só o valor monetário, mas também o medo de tudo: de ficar fora de casa, da nova aventura e principalmente, medo de uma força esquisita que eu sentira nascer dentro de mim.
A Celina resolveu participar do curso e decidida como só ela, conhecer e ver do que se tratava tudo aquilo; a Liliana resolveu ficar mais uns dias em SanPeter, na casa se uns parentes dela e aproveitar para ir aos shoppings fazer umas comprinhas; e eu resolvi fugir correndo de volta para casa, o mais rápido possível!
De volta, já no ônibus, me arrependi, senti-me arrasada. Parecia que tinha deixado minha própria vida para trás. Chorei, pensei em voltar, mas não consegui.
Hoje vejo que foi melhor assim; eu não estava pronta ainda. Cada coisa a seu tempo!
A Liliana voltou dois dias depois e a Celina ficou a semana toda participando do curso.
Quando ela voltou, senti que algo havia mudado; seu olhar estava diferente, mais profundo.
Contou-nos que lá houvera um fluir amoroso: tinha sentido o Amor pela primeira vez; foi sua primeira experiência do Real.
Ela trouxe as fitas com as músicas, compramos mais livros, assinamos um jornalzinho do Rajneesh.
A primeira meditação que fizemos, as três juntas, foi na casa da Celina, numa segunda feira à tarde, dia 31 de agosto de 1981. Marquei bem a data, porque era para fazer durante 21 dias.
continua....
Esposas Aventureiras.
Como sempre, os primeiros amigos fiéis que me apareceram foram os livros.
O primeiro que me caiu nas mãos foi um livrinho sobre “Poder Mental”. Em seguida comecei a ler tudo o que encontrava na prateleira de auto-ajuda: Joseph Murphy e outros no gênero.
Descobri um autor interessante que falava sobre consciência cósmica: Vernon Howard.
O lado religioso começou a ser vislumbrado: Krisnamurti, Aldous Huxley, Lobsang Rampa.
Uma salada mista, com tudo que eu havia lido anteriormente sobre filosofia, educação, psicologia, fora os romances e poesias!
Minha mente parecia uma esponja, absorvendo tudo na sua sede de conhecimento, mas sem separar, sem discriminar e eu acabava misturando e confundindo muita coisa.
Entrei para a Ordem Rosacruz; recebia os fascículos pelo correio e estudava.
Ao mesmo tempo, lia sobre espiritismo, ocultismo, parapsicologia, hipnose, macrobiótica, yoga.
Comprei um livro do Professor Hermógenes e comecei a praticar a hatha yoga sozinha em casa.
Todo e qualquer assunto relacionado à busca espiritual e autoconhecimento recebia meu interesse.
O que me movia era uma sensação de que algo estava faltando em minha vida e ao mesmo tempo parecia que algo me ameaçava; uma vaga sensação de pânico.
Aparentemente eu vivia bem minha vida de esposa, dona de casa, mãe, professora.
Tudo corria normalmente, mas havia uma espécie de inconsciência; parecia que a vida ia acontecendo à minha revelia, sem a minha verdadeira participação, sem intensidade, sem colorido.
Parecia-me estar sempre rodeada por um peso, uma tristeza difusa; nada me animava de verdade, nem me interessava realmente.
E assim eu ia vivendo, com pequenos interesses que logo morriam: as aulas de violão, aulas de costura; eram tentativas vãs de preencher o vazio e eu logo desistia.
O nascimento das crianças tinha sido um alivio temporário à tensão interior que agora voltava com maior intensidade.
Nessa turma de amigos que freqüentávamos conheci duas pessoas que desempenharam um papel importante nessa fase da minha jornada: a Liliana, que era casada com um engenheiro, professor do Mauro na Faculdade e a Celina, casada com um médico.
Eram amizades que vieram através dos maridos, das festas, e que depois foram se aprofundando pelos interesses comuns.
A Celina era advogada, mas não exercia a profissão; a Liliana era dona de casa e ambas estavam vivendo a mesma crise de autoconhecimento que eu vivia.
Tudo começou quando, numa festinha na casa da Liliana, eu falei que pertencia à Ordem Rosacruz. (hoje não mais pertenço à Ordem, onde muito aprendi).
A Celina se interessou; as duas faziam yoga com uma professora muito conceituada, e eu passei a ir também.
Então elas me convidaram para participar de outras reuniões da chamada Ponte Para a Liberdade que a mesma professora liderava e que ensinava sobre os Mestres Ascencionados e os 7 Raios de Luz.
E assim íamos tentando aprender mais sobre a vida e sobre nós mesmas.
Um dia, em meio à rotina do dia a dia e já na desesperança de encontrar algo que preenchesse aquele vazio e aplacasse as sensações ruins que eu sentia, caiu-me nas mãos um livro que iria desencadear toda uma nova experiência em minha vida: chamava-se “Meditação, a Arte do Êxtase”; o autor era um hindu, Bhagwan Shre Rajneesh.
Assim que comecei a ler, senti uma identificação profunda; algo estava acordando em meu intimo, com se eu já soubesse e concordasse com tudo o que ele falava.
Fiquei admirada pelo seu método de meditação, que para mim era algo revolucionário: em vez de ficar sentada, parada, tentando relaxar, respirar e não pensar em nada, coisas que eu já tentara na yoga sem o menor sucesso, ele falava em dançar, movimentar o corpo, expressar-se, gritar, fazer catarses.
Havia endereços de Centros de Meditação na Índia e também falava sobre fitas cassetes com as musicas para as meditações.
Continuei a ler, comprei outros livros dele, e me perguntava como fazer para ter acesso às musicas e às técnicas de meditação que ele descrevia.
Conversando com a Celina perguntei se ela gostaria de ler um livro que realmente poderia mexer com a sua cabeça; ela leu, passou para a Liliana e como agora éramos três, as coisas começaram a se movimentar! Isso foi em 1981.
Em julho a Liliana assistiu a um programa na TV onde uns “rapazes esquisitos”, segundo ela, anunciaram que viria ao Brasil um médium do hindu Rajneesh e que haveria uma palestra em SanPeter.
Pronto! Tudo se revolucionou!
Como fazer para irmos assistir a essa palestra?
Eu, esposa pacata e submissa, jamais poderia pensar em ir a SanPeter sozinha, ainda mais para esse fim; a Liliana tinha a mesma dificuldade; já a Celina era mais independente; contatou uma tia onde poderíamos dormir e após movermos céus e terras, após mil hesitações, explicações aos maridos, complicações e reclamações, conseguimos ir.
E lá fomos as três para SanPeter, de ônibus, sem saber direito o que era, como era e onde era!
Foi até engraçado: eu e a Celina de calças jeans e a Liliana, muito chic, vestindo um longo mantô cor de vinho!
Fomos para o apartamento da tia da Celina, e em seguida tomamos um taxi para o tal endereço onde seria a palestra, na Avenida Paulista.
Entramos no tal anfiteatro, e que horror!
As três respeitáveis senhoras vindas do interior, onde tinham ido parar?!
Uns caras esquisitos, vestidos com longos mantos vermelhos, com colares de contas enormes penduradas no pescoço! Uma loucura!
Também outras pessoas esquisitas, caras estranhas, com aparência de gente viciada em tóxicos, mal vestidos, barbudos, hippies. Só algumas poucas pessoas com jeito normal como nós...
No salão sentamos todos no chão e passaram um tape com passagens de Rajneesh falando a seus seguidores na Índia.
Em seguida um homem alto, magro, barbudo, apresentou-se para falar: Teerta.
A partir daí as sensações de medo e estranheza desapareceram: entreguei-me à doçura e ao mesmo tempo à firmeza daquele homem; fiquei num estado meio que hipnótico; nada me espantava, parecia que eu estava em casa, em meio à verdadeira família de minha alma.
Ele deu umas técnicas de grupo onde nos movimentávamos pelo salão; eu me entreguei ao exercício, sem pensar em mais nada e lágrimas escorriam pelas minhas faces.
Depois eu soube que cada uma de nós tinha reagido à sua maneira: a Celina tinha ficado o tempo todo seguindo o Teerta, como que querendo perceber e sentir a sua pessoa através de uma observação acurada; já a Liliana tinha ficado o tempo todo olhando para tudo aquilo cheia de profundo espanto e aversão!
Voltamos para o apartamento da tia, onde iríamos dormir, muito abaladas por emoções contraditórias.
Haveria um curso liderado pelo Teerta no Centro de Meditação Soma, que duraria cinco dias, a um preço que para mim era muito alto.
Não só o valor monetário, mas também o medo de tudo: de ficar fora de casa, da nova aventura e principalmente, medo de uma força esquisita que eu sentira nascer dentro de mim.
A Celina resolveu participar do curso e decidida como só ela, conhecer e ver do que se tratava tudo aquilo; a Liliana resolveu ficar mais uns dias em SanPeter, na casa se uns parentes dela e aproveitar para ir aos shoppings fazer umas comprinhas; e eu resolvi fugir correndo de volta para casa, o mais rápido possível!
De volta, já no ônibus, me arrependi, senti-me arrasada. Parecia que tinha deixado minha própria vida para trás. Chorei, pensei em voltar, mas não consegui.
Hoje vejo que foi melhor assim; eu não estava pronta ainda. Cada coisa a seu tempo!
A Liliana voltou dois dias depois e a Celina ficou a semana toda participando do curso.
Quando ela voltou, senti que algo havia mudado; seu olhar estava diferente, mais profundo.
Contou-nos que lá houvera um fluir amoroso: tinha sentido o Amor pela primeira vez; foi sua primeira experiência do Real.
Ela trouxe as fitas com as músicas, compramos mais livros, assinamos um jornalzinho do Rajneesh.
A primeira meditação que fizemos, as três juntas, foi na casa da Celina, numa segunda feira à tarde, dia 31 de agosto de 1981. Marquei bem a data, porque era para fazer durante 21 dias.
continua....