O TESOURO DO PADRE

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Recontando Contos Populares

Dizem que havia em tempos que já se foram, um padre muito mau que não temia a Deus ou ao homem. O coração dele estava cheio de ganância; vivia contando as ofertas, e, a tirar proveito das pessoas boas que frequentavam sua igreja. O que arrecadava para a melhoria da igreja, mantinha só para ele; quando juntou uma grande quantia de dinheiro e ouro, depositou tudo numa caixa de alumínio e no cemitério do vilarejo, enterrou-a em uma cova ao pé de um cipreste. Em seguida, realizou um ritual para que o fantasma do homem ali enterrado vigiasse a caixa. Qualquer um que tentasse cavar para roubar o tesouro seria aterrorizado pelo esqueleto do homem.

O padre planejava abandonar o clero e viver, noutro lugar, com todas as regalias que o dinheiro roubado pudesse lhe proporcionar; mas ele caiu muito doente. No leito de morte, o padre se arrependeu do roubo.  Jurou ao confessor dele que sua alma não descansaria até alguém devolver tudo o que roubou da igreja e de Deus. O padre, porém, morreu antes que pudesse revelar o lugar onde o tesouro fora enterrado. Porém, em seus últimos suspiros, disse ao confessor: "Siga os sinos. Eles o conduzirão ao tesouro".

O vigário que cuidou do padre agonizante não atendeu as palavras dele. Contudo, o zelador da igreja, que estava varrendo o corredor, na hora da morte do padre, ouviu o segredo do tesouro e as últimas palavras do padre.

O zelador era muito pobre e quis uma vida melhor para ele e a família, assim, se determinou a desenterrar o tesouro. Cada noite, durante uma semana, ele cavou os jardins da paróquia, procurando a caixa de dinheiro. Não achou nada.  

Uma noite, foi acordado de seu sono pelo som de sinos que tocavam ruidosamente, na escuridão. Ele saltou da cama, temendo alguma emergência, e então percebeu que a esposa e crianças não tinham ouvido os sinos, pois continuavam dormindo. Logo, lembrou-se das últimas palavras do padre, e que o tocar misterioso dos sinos, era para conduzi-lo ao tesouro.  

Levando uma pá, o zelador seguiu o som dos sinos que vinham do cemitério. Quando, ofegante, alcançou a fonte do som, começou a cavar e os sinos pararam de tocar. Momentos depois, a pá bateu em algo duro. Avidamente, ele limpou o resto de terra que cobria o caixão e achou ao lado dele uma caixa de alumínio. Puxou-a fora do fosso com as mãos trêmulas, colocou a caixa em cima da lápide, e quebrou o cadeado com a extremidade da pá. Quando abriu a caixa, pilhas de dinheiro e moedas de ouro "saltaram" aos seus olhos deslumbrados.

Fechava cuidadosamente a caixa, quando ouviu um gemido... Viu um esqueleto saindo da cova e estirando seus braços ósseos para ele.

— "Meu Deus!" – gritou tomado de terror.

Jogou longe a caixa e saiu "voando", cemitério abaixo, numa correria "despinguelada"; e o esqueleto atrás. Não parou até chegar a casa dele. Lá é que foi perceber que tinha deixado a pá na cova do esqueleto; era uma pá cara e ele não estava disposto a perdê-la.

 Esperou até chegar a luz do dia, e voltou, relutantemente, para o cemitério, a fim de recuperar a pá. Quando chegou a cova, nenhum sinal do esqueleto, da caixa de dinheiro, do buraco que tinha cavado, e muito menos da pá. Pensou: "O esqueleto deve ter recolocado tudo no lugar depois que o perseguiu cemitério abaixo". Perto da lápide onde, à noite, tinha colocado a caixa, havia duas moedas de ouro que, provavelmente, o fantasma tinha se esquecido de recolher. Pôs as moedas no bolso e apressado retornou a casa. Usou o ouro para comprar alimento e roupas para a família.

O zelador nunca mais voltou ao cemitério para recuperar o tesouro do padre; entretanto, às vezes, ele ainda era despertado pelo som misterioso dos sinos. Sabia que este som, levaria alguém mais piedoso que ele a desenterrar o tesouro e devolver o dinheiro a igreja e a Deus. Mas, mesmo assim, a alma do padre nunca mais descansaria, pois, de tudo o que roubou, faltavam duas moedas de ouro. ®Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!

Ricardo Sérgio
Enviado por Ricardo Sérgio em 25/11/2009
Reeditado em 21/10/2013
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