A Mentira às Vezes Salva!
Certa noite em seu carro, Tom começara de repente a chingar sem parar, de certo não era à-toa já que eram palavras de total baixo calão. Ele desceu furioso do carro, caminhou sabendo o que veria e ao ter certeza voltou a xingar tudo.
O pneu trazeiro do automével estava murcho e de certo, mais uma vez ele chegaria tarde para o jantar.
Uma hora demorou até que o carro fosse levantado e a roda fosse tirada. Pegando o estepe no porta-malas, Tom prendeu o dedo e ao tirar a aliança de dez anos de casado saiu, rolou e caiu dentro de um bueiro.
Xingando mais uma vez ele correu até a abertura fétida no meio-fio e olhou, a pequena peça dourada que simbolizava o matrimônio estava no fundo coberta por uma água negra mal cheirosa.
Tentando esticar a mão, pegar com madeiras e até um arame, ele afinal desistiu, havia perdido o anel.
Ao terminar com a roda entrou no carro, furioso e pensativo:
"Se eu chegar em casa e dizer à minha mulher que o anel de casamento caiu num bueiro..."
Logo em sua mente veio as imagens: ele chegava em casa, estacionava o carro e entrava pela porta da frente. Sua mulher estava na mesa de jantar esperando pelo marido que chegava suado e sujo.
- Olá querida, deve estar se perguntando por que cheguei atrasado, é bem simples, estava eu andando normalmente com meu carro e de repente estoura o pneu, eu desci para arrumar e perdi o anel num bueiro que havia na estrada!
Ela olharia-o com cara de desconfiança e de certo bateria nele e o expulsaria de casa.
- Você me traiu, canalha. Quem era a vagabunda hein? Aquela dona Inês do seu trabalho, seu pilantra?
Voltando do devaneio ele nem notou estar chegando em casa, estava sujo e suado, a marca de uma aliança auxente estava em seu dedo anular era evidente; de repente, como o pneu furou, ele teve a resposta ao fechar a garagem e entrar pela porta. Como previra sua mulher estava na mesa à sua espera, olhar de interrogação.
Antes que ele pudesse falar algo a mulher veio ao seu encontro e olhou para o dedo onde deveria estar uma aliança.
- Querido, quer me dizer algo?
- Sim! - ele sabia que a verdade ia lhe provocar uma série de acontecimentos ruins, então optou - Eu estava no motel com a minha secretária Inês e tirei a aliança para entrar na banheira e esqueci ela lá!
O rosto que a mulher fez não foi de fúria, pareceu mais de compaixão. Ela o abraçou e disse com ternura:
- Obrigado por não mentir para mim, eu te amo! - e beijou-o com amor.