O escritor medíocre

O escritor medíocre

O escritor medíocre acreditava que talvez tudo já tivesse sido escrito. Qualquer coisa que se escrevesse, alguém, algum dia, já havia escrito, inclusive alguma história sobre algum escritor medíocre.

Então, antes mesmo de escrever, já se sentia frustrado porque sabia que não conseguiria escrever nada original. Mais um escrito, mais um fracasso vindouro. Todas as histórias que pensava em criar, alguém no mundo já havia criado. Todos os assuntos que pensasse abordar, alguém no mundo já havia abordado. Que infelicidade! Talvez existisse muita gente no mundo. Talvez tivesse que ter nascido antes. Talvez tivesse que ter descoberto outra profissão mesmo. Não sabia. Só sabia que, por mais que se esforçasse, nunca conseguia escrever alguma coisa que dissessem: “Oh, meu Deus, que coisa bem escrita e original! Que texto lindo!” Todos os seus textos passavam em branco, desapercebidos, para quem quer que mostrasse, onde quer que publicasse. Já havia tentado em jornais de bairro, de faculdades, de escolas, de sindicatos, de associações e na Internet também, publicando o seu site. Nunca, no entanto, recebera uma única carta elogiosa, um único prêmio de estímulo, uma única menção de existência. Era como se não existisse. Existia unicamente para si mesmo. Escrevia para si mesmo. Talvez passasse uma vida toda escrevendo, morresse e ninguém jamais percebesse que havia passado pelo planeta, diga-se de passagem. Não era ninguém. Sentia-se como um jogador de futebol de várzea, que podia se empenhar e jogar todos os dias com os amigos e até jogar bem muitas vezes, mas envelheceria num campinho de barro, de lama, de lodo, de encharco da chuva, como aqueles que jogava sem nunca ser chamado nem olhado por nenhum time que se prestasse. Alguém que podia jogar futebol a vida inteira, mas que jogaria só para si, só pelo amor ao jogo mesmo, sem qualquer êxito, sem conquistar nada com seus “gols” ou jogadas mais especiais. Acreditava que podia “jogar” muito bem em alguns momentos, mas era vão, num mundo que tinha “Ronaldinhos”, “Romários”, “Kakás” e tantos outros jogadores maravilhosos. Jogar, ou melhor, escrever, para ele, talvez fosse só um passatempo, um entretenimento. Como dizia sua namorada, escrever era a sua “bateria do seu celular”.

Necessitava escrever para se sentir recarregado. Mas, os créditos para que seu celular funcionasse, talvez sempre tivesse que buscar e conquistar em outro trabalho. Era muito difícil mesmo comprar os créditos só porque “tinha carregado bastante a bateria”. Quem sabe um dia? Por enquanto, porém, só lhe restava carregá-la sem nenhuma esperança. Trabalhar em alguma outra coisa como sempre fizera para ter dinheiro e esquecer que escritores não tão bons quanto ele tinham sucesso, conseguiam chegar mais longe sem muitos esforços. Havia lido, talvez de Osho, ou de alguém da cultura oriental, que todas as pessoas deveriam simplesmente fazer o que sabiam fazer sem nenhuma pretensão de dinheiro, de sucesso, de fama, etc. Os artistas que não tinham grandes ambições eram os mais talentosos. Talvez fosse assim então. Só que não era talentoso, era medíocre. Então tinha ambições. E por isso era infeliz. Morreria infeliz se nunca realmente nenhum reconhecimento conquistasse. Mas assim era a vida. O que fazer?

Chorava de noite antes de dormir. E escrevia mais um pouco quando acordava....

Leandro Rangel
Enviado por Leandro Rangel em 07/01/2009
Código do texto: T1372453
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