Realidade humana
— Senhor, mi dá um trocado pá eu e minha irmãzinha poder almoçar. A gente estamos mortos de fome!
Paulo e sua irmã Drica são moradores de rua. Drica de apenas sete anos, pesando dezoito quilo, sonha um dia tornar-se modelo, deixar para trás aquela vida miserável. Paulo cobiça desde pequeno o sonho de tornar-se professor da língua portuguesa, de ser elegantíssimo, ser fluente com sua língua de origem.
Sem nada para comer, Paulo se pôs a pedir esmolas. Horas passaram-se. A quantia que Paulo ajuntara não era o suficiente, mal dava para comprar um copo descartável. Paulo então se pôs a pedir nas casas um prato de comida, pelo menos para sua irmãzinha.
— Senhora, eu e minha irmã estamos com fome, dá um prato de comida que nós divide.
— Acabei de dar a comida que sobrou para meus porcos, não tenho!?
Drica angustiada, olhou seu irmão pálido de fome, balançando a cabeça como não acreditasse no que acabara de ouvir. Continuaram.
— Senhor, têm alguma coisa pá minha irmãzinha comer?
— Minhas despesas são apenas pára meus porcos. Sumam daqui!
Novamente Paulo e Drica não acreditaram nas mesmas. Quase chorando e com dor inarrável no estômago Drica seguiu com seu irmão.
— Senhorita, por favor, dá a gente o que comer.
— Tenho alguns peixes podres, os bons meus porcos e eu comemos.
— Aceitamos!
Paulo e Drica sentaram-se à mesa, quer dizer, ao chão, a mesa também era dos porcos e, comeram eufóricos aqueles peixes podres, que para eles era o melhor banquete da face da terra. Quando Drica perguntou a seu irmão:
— Somos seres humanos?
— Claro! Bobinha.
— Por que seres humanos? Somos inferiores aos porcos!