17 de abril.

17 de abril de 2006. Esse foi o dia em que, finalmente, aquela tormenta dentro dela silenciou. Mais de quatro anos haviam se passado desde o dia em que foi definitivo: eles tinham se separado. O pai não voltaria mais.

Por parte dela, as lágrimas jorravam incansável e incessantemente, como se tentasse expulsar toda a dor que sentia pela ausência de seu melhor amigo. Com quem, nas noites em claro, ela ficaria conversando? Quem, com histórias e jogos, a distrairia até o sono vir? Quem indicaria livros, faria poemas, perfumaria o quarto de incenso? E como ela faria, de manhã cedo, sem sentir o cheiro do cachimbo, a ópera ressonando em seus ouvidos, lá de onde vinha uma luz frace de computador? Como ela aguentaria o fardo do dia sem aquele sorriso de bom dia se abrindo enquanto segurava a caneca de café velha de guerra?

Mais de quatro anos e ela não conseguia apagá-lo da memória. Não queria acreditar que ele a havia esquecido. Não queria crer que aquela ausência, aquele silêncio, era proposital e, principalmente, que o homem que atendeu ao telefone e disse, com calma e tranquilidade, "eu não tenho nenhuma filha" não fosse ele, não fosse seu pai.

E ela continuou tentando, mesmo sendo ignorada. Ligou, escreveu, foi atrás e nada. As fotos continuam no quadro que é só dele. As cartas continuam guardadas com carinho, mas aquela esperança se desfez naquele dia 17. No dia em que, depois de quase quatro anos sem vê-la, quase quatro anos sem trocarem palavras, ela sorriu com os olhos lacrimados e ele, com olhar de desprezo, lhe deu as costas.

Ele continua sendo seu pai. Ela continua amando-o, mas, agora, de um jeito diferente. Um amor receoso, um carinho contido... de um coração tristonho.

Fernanda Vilardi
Enviado por Fernanda Vilardi em 25/09/2008
Código do texto: T1196049
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