A casa de Levi

Vaguei pelo mundo à procura de quem pudesse responder às perguntas lançadas à rosa dos ventos. Quantos mares ainda hei de navegar até encontrar um porto, uma casa?

Sentado nesta areia branca, contemplando a paciência das vagas do mar, procuro relembrar as palavras que no passado animaram o coração do homem. Eu era um faminto desnorteado na escuridão do silêncio, com fome e medo de conhecer a verdade.

Batendo em muitas portas seguia meu caminho procurando o verbo que viesse dar sentido a amargura, ao desespero e à falta de amor.

Mastiguei o fel de minha vida. Açoitei a minha própria carne. Uma busca inútil de felicidade condicionada em tudo que não fosse eu. Inglória odisséia que os anos transformaram em medo.

Ruas de pedra e dor. Saindo da areia da praia continuei vagando pelo mundo e vendo outros famintos que, como eu, procuravam a felicidade em vis prazeres: o êxtase da falsa felicidade como prenúncio da vã realidade.

Eu era a humanidade perdida em si mesma, cega na luz do néon, surda às palavras de amor e muda diante de sua própria imagem - Minha própria imagem. Reflexo do homem que mora nas calçadas e becos urbanos, preso ao vício da carne, corrompido e sem ética.

Só que um dia bati a Tua porta. Quando cheguei a porta já estava destrancada. Fui convidado para entrar e dissestes que assim sua casa sempre esteve – já estava a minha espera. Fui entrando e reconhecendo o lugar. Era de uma beleza não pronunciável e de um encanto irrecusável. Aquela casa era meu porto.

Em suas palavras voltei ao passado e naveguei no mar ao redor do mundo. Durante a viagem Tu falastes da simplicidade do amor e mostrastes meu reflexo nestas águas calmas e limpas. Minha imagem estava tranqüila e feliz. O mundo que me mostrastes continuava igual, os mesmos becos e as mesmas ruas de pedra. Era o mesmo mundo, mas ao final da viagem eu mudei. Não espero mais que o mundo me faça feliz. A minha felicidade eu construo a cada dia. A minha felicidade é de dentro para fora.

E sempre que volto a esta praia e sinto esta areia lembro de Ti. Estou saciado e feliz, já não sinto tanta fome. Ouvindo o som das vagas do mar, ouço as palavras do peregrino que nasceu na casa de Levi, que semeou os ventos com palavras de amor e deixou a porta de sua casa destrancada para que qualquer um possa entrar.

Domm Paulo
Enviado por Domm Paulo em 24/01/2008
Código do texto: T831676