Ausência morna dos livros

Abro as portas das coisas, as portas das casas. Percebo a ausência morna dos livros. O que busco? Talvez algumas memórias, lembranças, cacos de poesia e poeira em algum espaço daquela estante. Tudo jaz no limbo de meu cérebro. Vasculho outras portas, outras partes, cômodos. Poeira. Observo a foto incomodado. Estamos sorrindo. Faz quanto tempo? Por que ainda a guardo? Por que não tenho o seu contato? A janela aberta. Forte vento e ele me questiona se ainda há sentimento. Há? Não ouso responder, não ouso buscar em mim tais respostas. Corro. Morro. Vivo. Sinto. Tanto. Tanto. Tanto. Corro. E não respondo. Paro. Reparo. Barulho de carro chegando. Pode ser o seu. Você sabe que sempre venho, não sabe? Sabe quando venho. A cada cinco anos. E por mais que eu queira esquecer, os sonhos surgem e você está sempre lá. Confuso. Escrevo poemas sinceros e não ouso dizê-los em voz alta. Voz é energia e sinto tanta falta da sua. Anoitece e nem vejo o tempo passar. Devaneios aleatórios surgem. Você passou pela porta e não entrou. Teve medo. De mim. Principalmente de você. Amanhece e ainda estou. Ainda olhando para esta ausência. Poeira. Já não te espero. Espero por mim. Estaciono meu carro. Fico distante da casa. Aproximo. Fico diante da casa. Fascino. Abro as portas das coisas, as portas das casas. Percebo a presença dos livros e me encontro na página que colei. Você não vai voltar.

Brunno Vianna e Kevin Oliveira
Enviado por Brunno Vianna em 10/02/2025
Código do texto: T8261828
Classificação de conteúdo: seguro