Pesadelo vermelho e mole - BVIW

Os amigos riam, pensando que era brincadeira. A família até imaginava ser verdade, pela quantidade de vezes que a menina repetia, mas ninguém conseguia entender. Era difícil encontrar motivos para uma adolescente detestar as férias. Eliete se recusava a dar explicações. Mas você gostava até ano passado, dizia a mãe, tentando descobrir algo. E não posso deixar de gostar?

As noites eram as únicas testemunhas dos motivos do desgostar. Nos pesadelos apareciam aquelas coisas vermelhas e moles que lhe davam tanto medo das férias. Sonhava com elas e acordava molhada de suor. Uma vez chegou até a fazer xixi na cama. Aos 12 anos, era algo para se envergonhar pelo resto da vida. No dia seguinte, inventou para a mãe que foi a cadela.

Férias, para a família, tinham um sinônimo: o sítio de vô Hernandez e vó Carmem. O casal adorava a vida no campo. Criava todo tipo de animal. Agora, já idosos, aguardavam ansiosos os recessos escolares para juntar os filhos e netos. Era o momento de mostrar toda aquela natureza para os meninos que cresciam na capital e ensinar como alimentar as aves, as vacas, os porcos.

A um dia das férias, os pais de Eliete não sabiam o que fazer: se desistiam de ir para a fazenda ou se levavam os outros filhos e deixavam a menina na casa da melhor amiga. Resolveram ir sem ela. A adolescente se despediu com saudade, mas ao mesmo tempo se sentindo salva de não ter que conviver com o medo de perto.

A alegria durou pouco tempo. Ao chegar à casa da amiga descobriu que o dono da casa havia comprado várias galinhas e um galo, porque queria comer ovos mais saudáveis. Lá estavam as mesmas crinas e as barbelas, debaixo do bico das galinhas, que lhe davam tanto medo quando ia levar alimento no chiqueiro da fazenda dos avós. Aquelas coisas vermelhas, moles, iam atazanar as férias dela de qualquer jeito.