OS GATOS VIRA LATAS DOS ARRABAUDES
Antônio Herrero Portilho
O gato Amarelão estava sempre passeando por ali naquela quadra, ele tinha muitos amigos e irmãos de crias variadas, dizem por aí que a mamãe do Amarelão era uma gata super criadeira, muitas farras e gritarias naquelas noites foram feitos pela Gatona mamãe do Maninho e do Amarelão, os telhados do barracão da fábrica de calçados tremiam como terremotos, o resultado sempre se dava em uma redonda barriga, foi de uma dessas crias que nasceu o Amarelão.
Gatona nem terminava a amamentação de uma ninhada, já estava gestante de mais outros rebentos, havia outros futuros pequenos bichanos prontos para saltar a vida, miando como choro de bebê pedindo leite do peito. Gatona era mesmo uma mamãe incansável nos tratos com seus filhos, mãe dedicadíssima.
Maninho nunca foi adotado, sempre padeceu em pleno relento, comia pelas mãos dos de bom coração, mas, há de que dizer, ainda existe corações bons nesse mundo lá dos humanos. Eles viviam ali nas imediações da fábrica de calçados, o gato Maninho as vezes ia para longe, gostava de ficar em cima do muro da casa de dona Clarita, apesar da empregada perversa que trabalhava naquela casa, percebia que os patrões não possuíam nenhuma aversão a qualquer bicho de natureza doméstica, mau Maninho sabia, mas a verdade é que dona Clarita era realmente uma boníssima pessoa, muito caridosa com todos os seres vivos, nuca fez mal a nenhuma criação.
No domingo de manhã Maninho estava ali dentro daqueles móveis velhos que se amontoados no terreno vazio, era um ótimo lugar para se esconder e dormir, havia cômodas, guardas roupas, armário de cozinha e tantas outras mobílias próprias para Maninho se esconder e dormir.
Logo as sete e trinta minutos começa a passar o povo que se dirigem às igrejas, os cultos vespertinos dará início logo-logo, enquanto aquelas pernas se apressavam em passos largos, veja quem estava atravessando aquela multidão de sapatos; o Amarelão procurava pelo Maninho e até já sabia onde estava, no terreno baldio e nessas horas da manhã, certeza, ele estará se despertando do sono, Maninho é um gato muito preguiçoso, Amarelão adentrou para o matagal daquele terreno abandonado a fim de encontrar com seu irmão Maninho, logo deu de cara com Maninho se despertando de uma longa noite de sono enroscado em uma gaveta de um dos móveis velhos, só o Amarelão para achar o tal fujão. Depois dos cumprimentos na linguagem de gatos, O gato Amarelão se expõe aos reclames de seu amigo e irmão, haja ouvido para ouvir tantas lamúrias.
- E então, como está se sentindo Maninho, parece que você foi atropelado, vejo que você está cheio de indisposição, acho melhor você se levantar para valer dessa cama, vamos bichano, força, precisamos arrumar comida, a nossa vida é feita de lutas, nascemos gatos, assim não temos culpas desse nosso lema.
- Ho amarelão, que bom que você veio, fiquei com medo de morrer sem a sua presença, mas você está aí, já posso morrer mais conformado. Disse com palavras e gemidos reclamando das dores nesse pobre esqueleto de gato.
- Como foi que aconteceu isso, parece que você caiu do terceiro andar, conte-me que ouve contigo. Perguntou Amarelão.
- Foi aquela senhora que trabalha de doméstica na casa de dona Clarita. Eu estava despreocupado quietinho de cócoras em cima do muro, der repente em uma situação impensada recebi uma vassourada de surpresa, quando caí para dentro do quintal, não conseguindo retornar as alturas do muro, recebi vários outros golpes de vassouras em minhas costas, me lembro ainda quando Jacinta dizia: - Te peguei, fazia dias que eu estava querendo te pegar e tome vassouradas nos espinhaços.
Felizmente consegui me escapar pelo portão da frente, corri pela calçada até chegar aqui em meio a esses escombros. Dizia Maninho descrevendo tudo ao seu amigo, mas, se derramando em lágrimas.
Ai meu deus dos bichanos, estou todo dolorido de levar vassouradas no meu espinhaço, minha coluna está em pandarecos, dona Jacinta não tem pena de mim, não posso nem subir no muro que as vassouradas comem nas minhas costas, não imagines o tão grande é meu sofrimento, a verdade é que gatos de rua sofre muito, gostaria de ter um lar para morar, uma dona que gostasse de mim. Percebo que a patroa até gosta de mim, um dia desses quando ela estava na lavanderia, eu saltei para o piso daquele quintal, percebi que havia algo comestível caído ali, desci para comer, dona patroa me viu e não reagiu contra mim, era um pedaço de lasanha caído, mas, te digo Maninho, estava limpinho, não como porcarias, aquele piso é mais limpo de que muitas bocas sujas comedora de arroz & feijão que existem por aí, pensei em dona Jacinta, acho que ela nem escova aquela boca fedida, mulher maldita! Estou revoltado com ela.
As minhas brigas, e meus espancamentos são desferidos pela empregada Jacinta, senhora revoltada com a vida, briga com deus e todo mundo, a empregada dona Jacinta que é a causa de meus sofrimentos, mulher ruim, ela é apenas a empregada da casa e quer mandar em tudo, eu vivo aqui na torcida para logo ela levar a demissão na cara, que a patroa a mande embora desse serviço por definitivo, que vá procurar o que fazer em outra freguesia., mas vejo que está demorando muito isso acontecer. Está me ouvindo aí gato Amarelão, desculpe-me estou assim descarregando essa minha fúria, você não tem nada com isso e tem que expor esses seus ouvidos para minhas revoltas.
- Me desculpe aí meu amigo Maninho, não estou podendo conversar direito, estou com a boca inflamada, me espetei em um espinho de peixe, mas, pelo que já estive sofrendo com esse ferimento, agora já estou bem melhor, só evitar conversar e miar muito, me doe a garganta, mas, vai melhorar logo. Disse Amarelão a Maninho, ambos filhos da mesma mãe, só que de pai diferente nascidos de uma outra cria, Amarelão Maninho e Bigodão são irmãos vivendo nas ruas além das periferias e centros comerciais, Bigodão não é muito citado nessa nossa história porquê é adotado, vive repleto de felicidade, com toda a pompa de gato burguês.
Amarelão veio visitar seu amigo irmão para lhe trazer uma boa notícia, mas, até agora mais ouviu que falou, como ele já disse está com a boca machucada, quase sarado, mas evitando se esforçar a voz de gato, é sobre dona Jacinta, Maninho precisa de ouvir essa notícia, ele ficará muito feliz, e assim foi narrando a pequena história a respeito de dona Jacinta.
- Eu vou lhe passar um acontecido agora nessa manhã, Jacinta saiu essa manhã para comprar pão, quando voltava da compra percebeu o nosso amigo Gato Preto próximo ao portão de sua casa, ficou muito nervosa com a presença do Gato preto em frente ao portão, não sei se você sabe, dona Jacinta é uma pessoa muito supersticiosa, com a crença dela diz que Gato Preto trás azar, lógico que isso é bobagem.
Narrava a história o amigo do gato Maninho.
- Foi no que deu, saiu na disparada correndo atrás do negro felino, a intenção era mesmo abate-lo, mas, o gato era muito mais esperto que ela, correu, se escapou para o outro lado da rua, Dona Jacinta não conseguiu pegar o gato preto, mas ficou botando fogo pelas narinas de raiva do animalzinho que corria se livrando da morte que a mulher endiabrada poderia lhe causar.
- Muito bem!... Palmas para nosso amigo Gato Preto, se eu pudesse daria um prêmio a ele, Gato Preto também é um grande amigo meu, sempre estamos juntos por aí, meu amigo de fé. Disse o gato Maninho repleto de felicidades.
Amarelão deixou a parte mais importante para o final da história, foi aí que Amarelão encerrou essa notícia com o fato mais importante, pediu atenção maior ao Maninho para o desfecho final desse recado.
- E dona Jacinta, voltou para casa completa de frustração, na correria deixou cair os pães no chão? O que houve com a maldita dos infernos? Perguntou o gato Maninho furioso por ter sido espancado pela megera.
O gato Amarelão disse com palavras bem compassadas para seu irmão o gato Maninho entender.
- Dona Jacinta estava furiosa por não ter a chance de pega o Gato Preto, tão cólera, cega de raiva, ao atravessar a rua foi colhida por um carro que vinha descendo a rua em alta velocidade, houve algumas fraturas, está internada no hospital, não se sabe se vai andar mais, por enquanto seus movimentos serão em cima de uma cadeira de rodas, fim trágico para dona Jacinta que tanto odiava animais, principalmente gatos.
Disse Maninho com are de bondade:
- Tenho pena de dona Jacinta, por todo mal que ela me causou, ainda não desejaria isso para ela. Torço para que ela melhore, se cure desses traumas, tenho um pressentimento que ela ainda vai melhorar e nós ainda vamos brigar muito nessa vida.
10 de novembro de 2.024