OUTRA VEZ, DEU MACACO NA CABEÇA.
Aconteceu lá no povoado de São Cafundós
Seu Gerônimo residia em uma daquelas vilas de periferia, ele era devoto de São Benedito, mas infelizmente naquela época vivia em situação de muita pobreza, não havia nenhum modelo de aposentadoria e nem tipo de beneficiário, as vezes até faltavam comida na mesa dos mais humildes.
Gerônimo percebendo que a situação se agravava a cada dia que passava, tomou uma decisão que se achava certeira.
Com um propósito em mente, dirigiu-se até a igreja de seu santo devoto; São Benedito, para fazer um pedido em oração, e assim fez.
Naquela manhã de segunda feira entrava porta a dentro o tal devoto para realizar esse pedido.
O senhor zelador, muito levado a fanfarrice e gozador, transformou esse drama em comédia de palco, o rapaz já conhecia o ilustre figurão por suas ingenuidades; Gerônimo já era do conhecimento desse trabalhador da limpeza do templo, vendo Gerônimo dirigindo a imagem percebeu aproximação frente à estátua de seu santo devoto; por ser uma imagem grande, ele se escondeu atrás, e escutava as orações do fiel devoto que dizia:
- Eu quero ser sorteado no jogo do bicho, eu quero ganhar nesse sorteio, por isso venho aqui lhe fazer esse meu pedido, faça isso por mim meu santo querido que tantas orações já lhe prestei, me dê um palpite em qual bicho devo jogar para ganhar e sair desse mal contratempo, diz aí o resultado que será sorteado para que eu ganhe, por favor meu querido São Benedito te peço em orações.
O zelador do templo que no momento havia se escondido por trás da estátua lhe respondia nas vezes do santo:
- Jogue no macaco, sim!... jogue no macaco. “disse o zelador nas vezes do santo devoto.
Aquele homem fiel saiu dali muito feliz com esse encontro ao seu santo devotíssimo dizendo em voz baixa, com seus botões e colarinhos:
Meu deus!... falei com São Benedito, verdade!... eu ouvi as suas palavras... Meu deus... sou mesmo um privilegiado, vou levar a sério o que ele me disse, vou jogar no bicho, e foi no que ele disse; no macaco. Obrigado São Benedito.
Chegando à casa seu Gerônimo fez tudo como o suposto santo disse, tomou a liberdade e pôs a escarafunchando a carteira de sua esposa, lógico que o santo não aprovaria o fato de subtrair essa pequena quantia de sua esposa, assim se emprestou cem reais Cr$ por conta própria, dirigiu-se a mais próxima banca de jogo e foi logo apostando cem reais no macaco, no primeiro prêmio, na cabeça, segundo ele, tudo conforme havia dito seu santo de devoção; São Benedito.
Logo a tarde saía o resultado, as papeletas estavam coladas nos postes de iluminação, para quem interessasse a ler, os sorteios se relacionavam em ordem do primeiro ao quinto, e assim fora feito.
Quando Gerônimo deparou com a leitura, quase caiu em vertigem, foi um grande susto o que leu ali frente aquele poste, em primeiro prêmio, deu macaco, seu Gerônimo ganhou uma fortuna, agora ficou rico, ficou escandalizado, surpreso! Com o que viu, realmente, o zelador acertou... quer dizer; o Santo.
Apesar de endinheirado, não pagou a sua esposa o que havia emprestado, assim demostrando sua desonestidade, mas ele será castigado por não saudar essa dívida.
No dia seguinte, seu Gerônimo entrava porta a dentro daquela igreja de são Benedito, novamente o zelador que estava por ali repetiu o mesmo feito, correu a se esconder atrás da imagem para falar em nome de São Benedito.
O fiel devoto, muito satisfeito com o resultado das orações de pedidos, prostrado diante da imagem formatada de gesso dizia em agradecimento:
Obrigado meu santo querido, consegui alcançar meus pedidos, minhas orações foram atendidas, realmente o palpite que o senhor me disse foi sorteado
O zelador que estava ali nas espreitas ficou pasmo pela coincidência, pensou rápido em uma forma de ferir o orgulho mau concebido a esse falso fiel, e assim dizia para consigo: -
- Esse prêmio poderia ser meu, ele roubou a minha sorte, vou lhe pregar uma peça para ele deixar de ser ambicioso.
- Enquanto isso, lá estava o mais novo ganhador do grande sorteio.
- Ganhei no primeiro prêmio, deu macaco na cabeça, fico muito agradecido, foi uma quantia considerada, gostaria muito que o senhor meu prediletíssimo e devoto de coração que desse um novo palpite, ainda ficou muitas contas a pagar, “mentira” preciso saudar minhas dívidas, aquele dinheiro gastei para pagar uma boa parte dessas contas, gostaria que de ser contemplado pela segunda vez, rogo a ti meu querido santo, meu devoto.
O zelador sabia que ele não havia gastado o dinheiro, enganava o santo, a ele não conseguia mentir, ainda estava com todo o dinheiro.
O rapaz zelador que se escondia atrás da imagem, disse um exagero, somente para brincar com sua ganância dizia em vozes pausadas e celeste:
- Agora você pegue tudo que ganhaste nesse primeiro prêmio e jogue no Avestruz.
- Avestruz querido santo? Perguntou só para confirmar.
- Sim! Avestruz... jogue no Avestruz, vai dá Avestruz, jogue tudo que você ganhou até agora que você vai ganhar
Disse o rapaz zelador escondido atrás da estátua, fazendo as vozes do Santo.
- Você vai ficar muito rico.
- Eu também vou fazer minha fezinha, vejo que meus palpites estão muito certeiros. Disse sem perceber que estava fazendo a voz de São benedito. Gerônimo ouviu e ficou assustado e perguntou:
- Uai!!! O senhor também faz seus joguinhos, meu santo querido?
(O zelador disse como se fosse o são Benedito):-
- Me respeite seu vagabundo, eu sou um santo, não está vendo, não. (disse isso e ficou nas maiores gargalhadas por enganar esse trouxa fiel.
Gerônimo saiu apressado, nem agradeceu o santo pelos acertos nessa loteria clandestina, cheio de euforia, se achando a pessoa mais poderosa no momento, correu e logo foi fazer a sua fé, convicto que ganharia na certa, e quebraria a banca do jogo de Zoo, e assim o fez:
Apostou tudo o que ganhou no Avestruz, pelos palpites de São Benedito ganharia com certeza.
Gerônimo mal conseguia esperar o resultado dos números, esperançoso, convicto que arrebentava a banca do jogo, aguardava impaciente o resultado, dessa vez os números seriam ditos... divulgado pela emissora de rádio, Gerônimo se enlouquecia com aquela espera, mas der repente a divulgação, o locutor disse em voz alta de bom som.
- Novamente pela segunda vez nessa semana, deu macaco na cabeça, em primeiro prêmio o macaco, macaco, macaco, ainda repetiu algumas vezes, deu macaco.
Gerônimo ficou enlouquecido, depois que tinha ganhado uma grande fortuna, acabou por perde-la tudo, não lhe restou um centavo da primeira premiação, ainda mais um agravante, devendo cem paus para sua esposa que logo virá com a cobrança, terá que pagar com sua própria pele.
Quando a esposa voltou pra casa foi logo lhe cobrando sua dívida, quando Gerônimo se desculpou que não havia ganhado no tal sorteio, aí veio as consequências, o tempo fechou, foi tanta pancadaria nas costelas do senhor Gerônimo, parece que o costado de seu Gerônimo ficou mais mole que a barriga, isso de tanto apanhar de sua esposa por ter apropriado de seus cem paus.
Enlouquecido, cheio de fúria se apoderou de um belo porrete e foi em direção da igreja a fim de acertar contas com São Benedito, chegando à igreja vindo de porta a dentro de porrete em mãos, senhor zelador quando viu que ele estava mal intencionado, correu, foi tomar providência, trocou a estátua que media mais ou menos um metro e noventa de altura e trocou por uma imagem em menor.
Quando Gerônimo chegou de frente a pequena imagem, de porrete nas mãos disse com bravura:-
- Ditinho, vá logo chamar seu pai, que eu não converso com criança.
Gerônimo sofreu algumas punições, dizem ser castigo divino por abusar da fé, levou uma surra de sua esposa, perdeu todo o dinheiro que ganhou, São Benedito também mostrou seus corretivos, imprimiu na mente do zelador do templo os números do próximo sorteio, o zelador sonhou com esses números que seriam sorteados, o rapaz apostou nos números que São Benedito mostrava em sonho, o rapaz acertou a sorte grande, ficou milionário, e muito assediado pelas mulheradas daquela vila, por ironia do destino, rapaz zelador fugiu com a mulher de Gerônimo, esse foi o castigo de Gerônimo pela sua ganância, não se contentou com aquele grande montante de dinheiro, queria mas, e mais acabou sem nada. Moral da história, quem tudo pede em oração tudo perde sem perdão
Antônio Herrero Portilho - 09-o8-2024..