Entre casar e dormir no hospital - BVIW
Samira tinha a estranha mania de gostar de hospitais. Se oferecia para acompanhar as longas noites indormidas de parentes internados, saboreava a comida sem sal e sem gordura. Não se incomodava de ajustar o pescoço no sofá pequeno ou poltrona dura. Curtia a dormência daquele não-tempo.
Fez questão de demorar a casar, para ficar mais disponível aos chamados. Mas Beto tinha pressa. Queria o chamego de dormir-acordar-dormir com sua loura. Seis anos entre namoro e noivado já davam no juízo dele. Cada um dormindo na sua casa era impedimento para a rotina de chamego que sonhava.
Marcaram a data, a igreja, ela escolheu o vestido, ele organizou a festa e reservou o hotel na praia, para a lua de mel. A ansiedade dos dois era coisa bonita de se ver.
Faltando um dia para o casamento, a mãe de Samira caiu do segundo andar do apartamento. Se desequilibrou ao limpar a janela. A situação despertou um gatilho emocional na filha. Como não ia acompanhar logo a mãe? Tentou convencer Beto a adiar. Não havia mais como.
Temendo que a noiva desistisse do altar, ele foi ao hospital. Conseguiu o último quarto do corredor. Colocaram uma cama de casal e pétalas para dar o clima. A irmã de Samira, que detestava hospital, aceitou ficar com a mãe. Quando a noiva entrou, ainda vestida, ouviu a frase que queria, em um local que amava:
- Fica comigo esta noite?