O CARA DO LUKY STRIKE VERMELHO E A MOÇA DO BATOM CAQUI

De 20 em vinte minutos, ele tirava o maço do bolso. Um cigarro a cada 20 minutos, três a cada hora. Era como se estivesse engasgado e tivesse que pôr tudo pra fora, e realmente estava engasgado, engasgado com a vida. Mas um homem de sorte, ao mesmo tempo que ganha tudo, pode perder tudo, a qualquer momento, como num jogo. E foi isso o que aconteceu. Boa esposa, bons filhos, bons pais, teto, cama, comida, trabalho. Esse homem foi tão ingrato, foi mexer onde não devia. Mas isso eu digo depois. Ele era feliz, bom porte, boa aparência, inteligente. Amigos mesmo nunca teve. Apenas queles da sinuca, do bar, do futebol, da cerveja. Ele guardava toda a sua filosofia para uma amiga. Uma moça alta, magra, feia... Ela gostava de morango, baralho e batom caqui. Gostava de viajar, gostava da praia, cerveja e chocolate. Era um amor improvável. Mas aí a relação foi se construindo ao longo dos anos e se apegaram de uma tal forma que não eram só casados, eram literalmente a mesma pessoa, unha e carne. A moça do batom caqui planejava mais um filho. Ele sorria sempre que ela dizia seu nome “João Pedro, João Pedro, o nome do pai.” Em 10 de abril de 2024, João fumou seu último cigarro. O desgraçado nos deixou, sem nenhuma explicação. Muitos dizem “foi o cigarro.” Mas João não estava feliz. Não bebia mais, não filosofava mais. João é um ingrato por ter morrido. Por ter nos deixado. Pedrinho, seu pai era maravilhoso, parecia que era eterno e nós não percebemos isso. Ele estava escapando por nossas mãos e não percebemos. A moça do batom caqui, alta, magra feia, viúva vive seu luto incomum. Muitos dizem que Deus levou, mas João nos deixou porque quis.

JOÃO DINATO

11 de abril de 24

João Dinato
Enviado por João Dinato em 12/04/2024
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