Lua minguante - BVIW
Dona Nenê era mulher forte, daquelas que acreditam que só seus braços e pernas podem dar a ela e aos cinco filhos o que a barriga pede todo dia. Vinha sendo assim há 40 anos. Herdou da mãe, lavadeira, a força de lavar e bater roupa no rio.
Mas, a vida das crias corria o risco de ser afetada pela economia. Sempre que o noticiário anunciava inflação, a conta da bodega aumentava e o saquinho de compras diminuía. Tentava conseguir mais roupa para lavar, mas a tal crise alcançava as patroas também.
Em casa, os filhos choravam de fome. Desesperançada, viu que seu corpo era a única forma de driblar a situação. Deu um sim ao antigo convite do Zé bodegueiro para fazer COISAS DA LUA perto do rio. Só gostava de fazer essas coisas por paixão, mas o sofrimento dos filhos não deu escolha.
Marcou dia e uma hora em que os meninos tivessem dormindo. Fez tudo que seu Zé pediu. Teve vergonha, mas se conformou por lá ser mesmo seu local de trabalho, e que apenas a lua minguante ia ver.
Na volta para casa, carregando um saco cheio de compras que lhe valeu a noitada, os olhos minguaram. Chorou mais que as águas do rio.