INTENSO PAVOR

Primeira Parte. 

O corpo do Coronel Antão - INTENSO PAVOR

 

Todas as vezes que caia um temporal, Coronel Antão ia em direção dessa grande e misteriosa árvore.

Passava todo o temporal debaixo da velha figueira; árvore centenária, corria a boca a boca que os ancestrais de Coronel Antão faziam torturas aos escravos e escolhia esse lugar para suas celebrações macabra, as vezes usava para açoitar ou em momentos sacrificar esses pobres seres indefesos, o tronco era debaixo da velha figueira, reza a lenda que nas sextas feiras em um determinado horário ouvia se gemidos que ecoavam desde dos tempos negros da escravatura. As amarras e chibatas ainda zuniam assim como nos tempos já passado, um resto de assombração persistiam em  apresentar seus lamentos cheios de dores.

Coronel Antão corria para debaixo dessa árvore, não no intensão de se abrigar do mau tempo, mas seguia esse ritual como uma exigência das entidades espirituais de forças maiores.

Todos já sabiam que esse senhor Antão já fez pacto com o diabo, ele só passou a ser rico milionário depois que vendeu sua alma para o demo, senhor das catacumbas dos infernos... em comum acordo era deveras parceiro do Diabo, mas conforme ficara acertado em pacto de sangue, em uma determinada data, o diabo viria para leva-lo, isso já ficou firmado.

O misterioso senhor Antão tinha uma super percepção de quando se aproximava qualquer tempestade, suas entidades espirituais sempre o alertavam, hoje bem de manhã esse homem recebeu essa revelação que dizia aproximar um grande temporal, ele ficou contente com esse aviso.

Hoje nessa tarde acontecerá. Olhando para o céu pode se perceber um aspecto estranho que de mostra nesses ares, essa brisa refrescante tem cheiro de chuva, a revoadas de pássaros rumo ao sul.  Já anuncia essa verdade

 

O tempo impiedoso passa fazendo marcas de destruição, além de derriçar as folhas e galhos dessa gigantesca figueira, deixava escorrer um rio de águas partindo do ponto mais alto dessa árvore até as raízes: tentáculos como os braços fortes desses caboclos resistentes formados para essa lida.

Tudo se tratava de uma barganha, eles ofereciam seus trabalhos em esforços por essa tão pouca miséria de cifras em tostões, maus davam para se alimentar essas três bocas famintas, insuficiente para acalmar a fome massacrante, nessa troca, coronel Antão sempre saia ganhando, esses empregados camponeses vendiam suas forças quase de graça, ficava faltando para alimentação desses seus filhos,   uma tristeza que saltava aos olhos de qualquer observador, ver aquelas crianças desnutridas de faces amareladas quase esverdeada pela palidez, de ficar chocado com tanta desumanidade, Coronel Antão poderia tratar melhor seus colaboradores, mas o que imperava naquelas leis trabalhistas, maltratava os mais humildes, quem ditavam as regras eram os mais poderosos senhores adeptos do coronelismo.

 

Naquela moradia precária Justino, sua esposa e seus dois filhinhos inocentes se penalizava pelo que poderia acontecer nessas intemperes climáticas, se protegiam como podiam desse bravio temporal.

Os relâmpagos trincavam o céu com grande luminosidade, as telhas de cerâmica da humilde casinha de Justino, tremulavam, encharcando dessa água dita como abençoada, mas inundava e causava até a morte aos desabrigados.

Aqueles seres tão desprotegidos das promessas divina, ainda que esse deus a qual eles prestavam essa fé nunca estendeu as mãos pelo ao menos a essas crianças.

O sonho daquele chefe de família; Justino, mulher e dois filhos, era de melhorar as condições de vida, dar conforto a essas três criaturas desamparadas pelo patrão, esse endemoniado home de negócio, que só visava o lucro as custas desses esfarrapados operários.

Já chegava as últimas horas dessa tarde quando essa chuva diminuiu bastante, quase cessando os últimos pingos, Justino; o pobre homem trabalhador dessas roças, apanha um machado e mais algumas ferramentas, assim como um belo revólver que possuía dês de muito tempo, só para caso de algum ataque de animais selvagens, nessas propriedade do Coronel Antão havia muitos animais perigosos, pensava com essa arma defender desses perigos, deixa sua pequena casinha, mulher e filhos e vai em direção dos campos, intenção derrubar um coqueiro de palmito para acompanhar em sua refeição, só restava esse afazer, depois desse meio dia a chuva não deixou ninguém trabalhar.

O nevoeiro cobria os caminhos a seguir, uma nevasca que quase não se via nada.

Justino vivia o tempo todo reclamando por suas péssimas condições de vida, questionava, resmungava e até xingava a Deus que se dizia o criador de tudo, mas para ele nunca atendeu suas orações, dizia e repetia que venderia a alma para o diabo, assim como seu patrão coronel Antão fez, repetia várias vezes – Deus não dá nada para ninguém, veja como nosso patrãozinho é rico e poderoso além de ser uma pessoa cruel, perverso praticante de tantas atrocidades e feito pacto com o diabo... e é rico.

Se o diabo aparecesse para mim eu me entregaria de corpo e alma, também seria um muito rico, agora dizendo a verdade, eu nem pra isso sirvo... ter uma prosa com esse tão encantado anjo muito querido.

Enquanto Justino caminhava naquelas trilhas em meio esse chuvisqueiro, resto que sobrou dessa tempestade que caiu agora a pouco, enxugava o rosto com as mãos, enquanto que seus olhos enchiam de água desses pingos que caia.

Com um saco de estopa nas costas com suas ferramentas, em um breve momento percebe se que as folhas dos arbustos se mexeram, em seguida surge do nada uma voz que chamou pelo nome algumas vezes esse pobre homem:

- Meu deus que será isso, seria deus falando comigo, ouviu meus reclames indignado pela minha situação miserável que se encontra minha família próximo de morrermos de fome além de esforçar-me para colocar comida na mesa, mas tudo que ganho nesse trabalho escravo não dá para matar a fome desses meus três viventes, eu, minha mulher, meus dois filhos.

Der repente a entidade interrompe os pensamentos de Justino e diz como exigência.

                                                                                                             - Senhor Justino, senhor Justino, eu quero ser seu amigo, tenho boas notícias para você, se quiser me ouvir, gostaria de falar com você? Disse essa voz do nada.

Justino abriu seu saco de ferramentas, pegou seu revólver e perguntava com insistência.

- Quem está aí, diga por favor, se não eu atiro. Disse com bravura apontando a arma para o mato.

- Calma seu Justino, sou seu amigo, pode abaixar a arma, quero ter uma conversinha com você, não fique bravo comigo não, vamos conversar amigavelmente, você não vai se arrepender, ainda a pouco você disse que entregaria a alma para o diabo, eu estava aqui perto e escutei dizer desse seu desejo de ficar rico, sua oportunidade chegou, você poderá se tornar um homem muito rico, pense bem nisso, tão rico como seu patrão, então, você não precisa ficar cruel como ele, sua esposa e seus filhinhos serão bem tratados cheios de belezuras... Disse o Cramulhão oferecendo muitas maravilhas enquanto Justino dava toda atenção às propostas desse diabinho do bem.

 

- Caso nós confirmamos essas minhas propostas, já vou te adiantar logo, não quero culto e nem qualquer tipo de orações, aqueles santos que você tem naquele oratório, vou te adiantar, terá que jogar fora, diabos não gostam de imagens, é o inverso de tudo que demostra a fé divina. Essa voz misteriosa dizia a seu Justino se dizendo muito interessado por essa sua causa.

Justino se fazendo de difícil por momento deixou de dar atenção a esse diabinho, essa entidade, assim voltou a insistir chamando atenção para as maravilhas oferecida por esse diabinho.

Justino enquanto caminhava pensava nas condições de fazer o pacto com o diabo, olhava para sua situação de miséria de sua pequena família e cada vez mais se convencia que esse seria uma ótima condição:

- Estou quase aceitando, afinal o diabo não é esse sujeito tão mau que o povo descreve, todos que chamam por ele, atende com urgência e presteza, enquanto que eu a tantos anos vivo rezando em pedidos, orações e promessas em aclamações, até hoje cada dia pior, estou convencido, vou aceitar, agora pergunto a você meu parceiro, qual será os próximos passos para firmar o pacto? Justino diz sim as propostas da entidade.

Essa trilha em que Justino seguia passava ao lado da misteriosa árvore centenária; a figueira encantada. O pobre homem enquanto mudava seus passos em direção dos coqueirais já se sentia que tudo estava mudando em sua vida, a começar por sentir se fortalecidos, parece que já sente mais vigoroso, como um ser humano, curado de uma forte anemia, Justino percebeu que agora tudo estava surtindo efeito, ao chegar sobre a proteção da velha figueira o diabo chama Justino para debaixo dessa misteriosa árvore, essa entidade vai ditando as regras de um ritual, enquanto Justino seguia o que era dito, o homem aceitava tudo o que lhe fora dito, como uma celebração de batizado.

A voz misteriosa disse ao Justino:

-Agora você abra esse saco de estopa, e pegue sua faca e faça um pequeno corte no pulso direito, deixe que esse seu sangue que exale ao vento, agora você é um dos nossos, aguarde para as próximas horas você terá os primeiro sinais desse seu pacto.

O diabo encerrou essa confirmação, tudo aconteceu sobre a proteção dessa árvore centenária. Justino continuou a fazer o que ele estava determinado, colher os palmitos nos coqueirais das guabirobas

Quando Justino voltava seguindo pela mesma trilha aconteceu um fato muito curioso, ele já estava imaginando que o pacto já estava surtindo efeito, Justino percebeu que de encontro a sua direção, surge um cavaleiro a galope, parece que não se sustentava direito nos arreios do animal, como se estivesse bêbado, passou por Justino, olhou para trás, viu que deixou cair uma grande bolsa de couro cru, tudo indica que aquele cavaleiro era um dos administrador do coronel Antão, a grande bolsa estava cheia de dinheiro que seria para pagar os empregados que trabalhavam nessa colheita de cana de açúcar, Justino ficou assustado quando ouviu um tiro de trabuco. Justino agora estava com a bolsa superlotada de notas graúdas, o cavaleiro foi assassinado, tudo indica, que foi uma tocaia. O pobre homem ficou confuso, não sabia se entregava o dinheiro ao dono que conforme alguns papeis que estava junto das notas e o portador seria o administrador do coronel Antão, Justino indeciso sentou se as margens da trilha pensando no que faria.

Em dado momento uma águia aproxima de Justino, ela gritava alto e voava em círculo, Justino começou a sentir medo, tudo aquilo dava pavor, logo a grande ave se aproxima de Justino e se transforma no diabo, pela primeira vez Justino viu a figura do diabo, aproximou e deu seus cordiais cumprimentos demonstrando ser muito amigo desse seu mais recente iniciado.

-Justino, Justino meu amado discípulo, essa sua primeira posse, foi tudo organizado por mim, não se preocupe com esse dinheiro, você não está praticando nenhum ato desonesto, não está roubando, esse dinheiro é seu.  Disse a entidade acalmando as tensões de Justino.

- Mas isso é muito dinheiro, tenho medo de alguém saber que estou de posse dessa grande quantia, posso até ir preso por acoitar produto que a mim não pertence.

- Não se preocupe eu já armei tudo, ninguém vai te pegar. Deixe comigo, eu te darei toda cobertura. Você está me compreendendo meu discípulo? Você ainda terá que aguardar umas quatros semanas para começar a gastar esse seu rico dinheirinho, já tenho em vista, você vai comprar aquela casa que se situa naquele endereço cujo já é de meu conhecimento, espere a poeira abaixar, eu estarei dando cobertura de tudo. 

- Sim, sim, tudo entendido.  Justino concordando com as propostas de seu mestre.

- Onde fica essa casa? Qual endereço? Pergunta Justino.

- Não se preocupe, na hora você vai saber, quero te adiantar a próxima e primeira tarefa a cumprir, coronel Antão está cumprindo seus últimos dias aqui na terra, você será o substituto, Coronel Antão morre dia dezessete desse mês, morte por arma de fogo, o fato acontecerá quando a vítima estará em meio uma confusão, haverá vários disparo de arma de fogo, mas ele morrerá pelo disparo de sua arma, você Justino acionará o gatilho de seu revólver e matará Coronel Antão logo quando ele chegava amontado em seu cavalo, Coronel Antão era um frequentador assíduo desse estabelecimento, hoje ele chegou na hora errada.  Na porta desse boteco onde haverá essa grande confusão, homens atirando com armas de fogo, esfaqueamento de peixeira até espancamento, se pegando em lutas corporais assim morre Coronel Antão, e eu estarei lá no funeral dele a fim de resgatar o corpo desse grande personagem, se vai Coronel Antão, ressurge Justino o mais novo discípulo do diabo.   Assim essa entidade revela tudo com antecipação.

Antônio Herrero Portilho/11/3/2024***  

 

Segunda parte

 

Coronel Antão morreu; Maldito coronel, se fazia de bonzinho.  Os mais humildes o tratava de patrãozinho, não se sabe se é de medo ou bajulação de puxa saco; um infame terrorista que vivia na obscuridade praticando seus crimes descritos em vários códigos penais, aterrorizava até seus próprios familiares, aos diabos com Coronel Antão. Abusava de adolescentes, senhoras até crianças além de agredi-las com total brutalidade. 

Espancava moças, moços, senhores, senhoras, crianças, as leis naquele fim de mundo não existia para Coronel Antão, ele comprava todas as autoridades daquela cidade, mandava e prendia a quem ele bem queria.

Um dia desses houve uma briga com os frequentadores de um barzinho de fim de rua; muitos chutes, pontapés até esfaqueamento, até arma de fogo.

Naquele momento chegava ele montado em seu cavalo, mal apeou se das celas de seu animal foi atingindo por uma bala perdida, o projetil ultrapassou a coluna vertebral, interrompeu o sistema nervoso central; morte instantânea. No ato dos disparos vários homens envolvidos nesta briga estavam com arma em punho, como saber o verdadeiro autor do disparo? Polícia não possuía grandes recursos para desvendar esses crimes e ainda mais, pelo mau persona que se tratava o senhor Antão, ninguém interessava em desvendar os autores deste assassinato.

Este senhor agora que jaz, tinha consigo uma grande impopularidade, somente os seus capangas e seu mais íntimo bajulador o acompanhavam em suas visitas à cidade, agora estes mesmos indivíduos tiveram a paciência de recolher o corpo e leva-lo até o local apropriado para tais cerimônias, primeiramente banharam o corpo com manjericão, forraram o caixão de cravos, lírios, até uma coroa com pesares e frases com letras bem desenhadas estava ali exposta à cabeceira do caixão dizendo frases esboçando saudades de seus entrequeridos.

Coronel Antão era possuidor de grandes fortunas, quilômetro e mais quilômetro de terras, nada possuídas através de esforços de trabalhos, ele era um grileiro de terras, muitos pequenos proprietários morreram, e suas terras foram empoçadas por esse homem endemoniado, assassino de crianças, mulheres, velhos e deficientes.

Cemitério das acácias, num endereço daquela cidade, será sepultado, velado o corpo em uma chácara de sua propriedade, já está preparado esse eventos fúnebres. Formaram se um tumulto nestas imediações, todos queria ver o rosto deste defunto pela última vez, não para saudarem, mas expressar suas indignações, alguns até ameaçava dar golpes de socos no resto deste defunto outrora carrasco e malfeitor.

Uma enorme fila se formou para apenas passarem pelo local da exposição deste corpo e saudá-lo, mas o povo diziam palavras de ódios, mesmo que o morto não ouvia o pessoal dizia:

-Vá pros infernos cão da peste, você acabou com a vida de minha filha, quero que queime no fogo dos diabos. ( disse um senhor revoltado com o mau que ele fez á menina estuprada e assassinada covarde pelo coronel Antão. )

- Você roubou minhas terras, matou minha mãe e meu pai, acabou com minha família, maldito dos diabos ( outo senhor indignado pelo mau já recebido por este morto.)

Assim os populares passavam pelo defunto, pessoas achincalhava o morto e voltavam para suas casas. A verdade é que o local do velório ficou quase vazio, alguns amigos mais íntimos ficariam por ali aguardando o sepultamento, mas algo aconteceu de anormal, o corpo de Coronel Antão desapareceu do caixão, algo misterioso aconteceu neste funeral.

O velório acontecia na chácara de propriedade deste já falecido em um endereço rural deste vilarejo, sobre uma barraca coberta de palhas de coqueiro, ambiente preparado para receber bastante gente, os organizadores deste evento fúnebre estavam na expectativa que poderia superlotar o local, multidões poderia acumular ali, apareceu sim, mas não permaneceram para a sentinela, logo  foram se embora, não restou quase ninguém, tal era a impopularidade do tal defunto Senhor Antão, apenas alguns três ou quatro gatos pingado sonolentos somando com um fotógrafo jornalístico da imprensa local; Era um amigo da família.

Chegando a tantas da noite os poucos que restaram por ali foram se dispersando deixando o corpo sozinho no caixão.

Logo nas primeiras horas desta madrugada, quem estava acordado pode presenciar um grande monstro assemelhando com a figura de um lobo, nas proporções de um grande gorila, chegou neste cenário de velório, aproximou do corpo e o retirou da urna funerária, parece que seu Antão apesar de várias horas de exposição ainda estava mole e com o rosto enrubescido, os três jagunços e o repórter amigo de longa data deste que jaz que faziam sentinela por ali assistiram tudo isso que aconteceu.  O monstro tomou o morto nos braços e chorava enquanto bailava por aquele local em redor de onde estava exposto para velório, parecia uma mamãe chorona embalando seu bebê, como se estivesse salvando de algum sinistro. Ninguém pode dizer que foi mentira, pois o rapaz da imprensa capturou tudo nas lentes de sua câmera e vídeo. No outro dia de manhã as manchetes dos jornais destacava em primeira página:

EXTRA, EXTRA. HOMEM MORTO QUE FEZ PACTO COM O DIABO FOI RESGATADO NA HORA DO FUNERAL. LEIAM ISSO.

14/4/2018*   

 

 

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 11/03/2024
Reeditado em 01/04/2024
Código do texto: T8017608
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