Devolva o Marcelino que você me tomou e nunca leu - BVIW
Quero confessar uma coisa nesta mensagem, Carlos. Senti um prazer enorme em te passar um livro que eu sabia que você não daria conta de ler.
Sabe por quê? Te traí com o Marcelino Freire todas as vezes em que li o Angu de sangue dele. O verde da capa me lembrava a ânsia de vômito que sentia quando tuas mãos sujas alisavam meu cabelo.
No conto O Filho do puto, eu espumava de prazer por ter escolhido o nome de Lino para nosso filho. Aliás, meu e do Marcelino, porque tive mais volúpia em pensar com quantos paus se faz uma canoa, como ele diz, do que com o teu barco furado inteiro.
Se você tivesse coragem de pelo menos abrir o livro, talvez pensasse que o conto “Faz de conta que não foi. Nada” seria uma historinha infantil com sangue. Marcelino diz isso para quem se fia em contar carneirinho. O bobo que dormir contando, perde a mulher. Isso te lembra alguém?
Faz assim. Antes de me devolver o Marcelino que você me tomou e nunca leu, tenta ir pelo menos até o “Mataram o salva-vidas”. É uma advertência que ele crava no peito da gente: o mar é uma armadilha cercada por todos os lados.
Você acha que é mar ou armadilha? Carlos, teu angu não dá mais conta nem de ser ressaca.