O pintor que não ouvia a santa (BVIW)
Uma vida inteira pedindo a Deus uma graça, por meio da santa que dava nome ao bairro que morava desde que nasceu. Mais velho de oito irmãos, órfão de pai, Bené pedia todos os dias para ser proprietário de oficina. Era uma forma de ajudar os irmãos mais novos a estudarem.
No início dos anos 70, a vida lhe apresentou Gláucia. Era filha do dono de uma oficina. O sogro percebeu a vontade de vencer do genro e transferiu a oficina para ele. O sonho, realizado, ia permitir sustentar as duas famílias.
A primeira providência foi agradecer à santinha. Contratou um pintor para dar uma nova aparência à oficina e recomendou: Esta oficina devo à Nossa Senhora de Fátima. Então quero dar o nome dela, Oficina Fátima.
Quando Bené voltou do Centro da cidade, estava pintado Oficina Nossa Senhora de Fátima. O nome, imenso, quase não cabia na fachada do prédio.
Reclamou na hora. Rapaz, eu te expliquei, não era isso. Era Oficina Fátima, como se fosse dela, entendeu?
No dia seguinte, o pintor retomou o trabalho. Aumentou o tamanho das letras e tascou um Oficina de Fátima.
A impaciência já estava quase no reino dos amortecedores quebrados. Homem, está errado de novo. Como é que pode? Te disse, o nome da oficina é só Fátima.
No final da tarde, Bené foi conferir o resultado. Só não ficou mais triste porque era agradecido demais à santa.
Hoje, 50 anos depois, o tempo dificulta enxergar o letreiro, mas, quem passa por lá, apertando os olhos, ainda vê “Oficina Só Fátima”.