Anjos e folhas
Quando ela partiu foi uma verdadeira rasteira, fui nocauteado, perdi o chão, o desespero me consumiu instantaneamente.
Lembro que não queria tirar minha vida, mas gostaria que a vida me abandonasse, gostaria que tudo fosse um pesadelo, mas a realidade as vezes é bem pior do que qualquer sonho mau.
Meu luto foi de inteira desilusão com tudo, não conseguia entender porque a vida as vezes é tão cruel, tão abrupta, tão insensível.
Mas um dia uma coisa banal me fez entender o propósito das coisas.
Estava descansando perto de umas arvores grandes com uma grama bem cuidada, quando uma rajada de vento fez uma centena de folhas caírem na grama, muitas delas ainda verdes, outras já amareladas, se misturavam com as folhas secas que estavam se amontoando perto das cercas e bancos.
Essa visão me fez perceber que tudo que está vivo cumpre um papel e depois morre para cumprir outro papel. Quantas folhas nascem, crescem e morrem enquanto a árvore se mantem de pé?
Todas cumpriram seu papel na vida da grande árvore, fizeram a fotossíntese trazendo alimento e renovando o ar com oxigênio, também respiraram, sua sombra controlou a temperatura. E no final ela faz sua última dança até o chão onde ela irá se decompor e virar matéria orgânica que vai revitalizar o solo e contribuir para que a grande árvore viva.
Existe dor na perda de uma folha?
Sei que as comparações são desproporcionais, mas vale a analogia.
Sinto que o significado da vida dela foi amar, papel que fez como ninguém, hoje tenho certeza que ela dança solta no ar com suas grandes asas, mas leve que folhas ao vento.