Conto 08 - Espelhos
Conto 08 – Espelhos
"Não acredito em espelhos
Como podem? Refletir imagens
Sem ao menos tocar nossas almas?
Como podes dizer
que o homem que vejo diante do espelho
é uma cópia de mim mesmo
Se está cópia nunca lidou com a vida?
Tampouco desdenhou dos Deuses?
Está cópia ultrajante, ao menos alguma vez
Colocou uma corda em seu pescoço?
Se drogou até vomitar as entranhas?
Chorou sobre os mantos da própria filha?
Diga-me, se um espelho é capaz de refletir
Quem eu sou, como podes não refletir minha dor?"
Num mundo onde os espelhos eram considerados portais para as almas, havia um homem completamente cético.
Ele se recusava a acreditar que aqueles reflexos frios e sem vida podiam capturar a essência de um ser humano.
“Como podem esses espelhos refletir quem somos, sem sequer tocar nossas almas?”, questionava ele constantemente.
Esse homem, era assombrado por uma dúvida existencial que o consumia dia após dia. Ele se via diante do espelho, olhando para o próprio rosto, mas sempre se sentindo estranhamente desconectado
“ Como podes refletir um homem doente, sem ao menos conhecer as suas feridas”, indagava ele, contemplando os olhos vazios no espelho.
Um dia, em meio a uma crise de insanidade, completamente nu diante do espelho.
Assumiu a seguinte teoria
“ Se espelhos são portais para alma, e há muito tempo perdi a minha, então hoje, eu irei em busca da criança que eu matei um dia”
Ele encarou seu próprio reflexo com determinação, num ato de desespero, quebrou o espelho em mil pedaços. Cacos de vidro refletiam sua imagem distorcida e, naquele momento.
À medida que contemplava os cacos de vidro, uma epifania o envolveu. Ele percebeu que, assim como os fragmentos do espelho, a sua alma havia se fragmentado.
Tomado pela angustia começou a mastigar os cacos de vidro e enfiar destroços em seu rabo, gritando de dor e prazer enquanto o sangue jorrava por todo o banheiro
Ele viu a si mesmo, desfigurado no reflexo do seu próprio sangue, balbuciando em completa agonia sussurrou
A minha alma, é apenas um suspiro perdido, nos fragmentos perdidos da vida...
- Gerson De Rodrigues
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