Como você é interessante

 

 

Uma jovem mulher, numa tarde cinzenta de inverno, saiu para comprar pães numa padaria próxima a sua casa, antes mesmo que pudesse entrar na padaria um jovem senhor de estatura mediana, moreno, feição suave dirigiu-se a ela e disse:

-Como você é interessante!

Aquilo acabou sendo uma constante em sua vida. Assim ficar em frente aquela padaria  com um saco de pães a mão a esperar por ela todos os dias. Ele realmente havia se encantado pela  bela senhora. 

Com essa frase que mais parecia um slogan, uma cantada barata deu-se início uma história de amor bonita e comovente, em que me ponho a contar.

-O homem de quem falo havia saído de um casamento a pouco tempo e a mulher de um compromisso de noivado. Ambos não estavam preocupados em encontrar alguém e sim viver no momento a sua solidão; que é natural aqueles que perdem um grande amor, pelo menos o que achavam dos seus relacionamentos.

-Naquele dia o destino resolveu juntá-los como se houvesse ali um motivo muito forte de encontro, de trocas.

Nos dias que se seguem aquele casal não quis mais separar-se um do outro havia um enorme carinho, uma cumplicidade, um prazer incomensurável de está junto, de programar algo. Isso servia de admiração a todos.

Porém não houve precipitação para adiantar os fatos, foram vivendo aquele momento de encantamento um pelo outro. Ele sempre muito romântico a repetir como ela era interessante. Mas não precisou muito tempo para que o convite fosse feito para morarem juntos, coisas que ocorrem e não se explica, apenas se vive.

Tudo correu muito bem entre eles na nova vida. Costumavam caminhar juntos, saírem para dançar, jogar dominó, xadrez com os amigos como também conversar as tardes na varanda e ler bons livros trocando conhecimentos. Uma união agradável onde se podia sentir que se tinha muito para dar e para receber. Aos poucos foram realmente pensar em oficializar a união já que estavam se dando bem. 

Tanto um quanto o outro pareciam estar esperando caminhar juntos aqueles belos e tenros dias de suas longas vidas. 

Mas com pouco tempo depois em que estavam comugando tão grande harmonia, algo veio a acontecer antes que pudessem solidificar o relacionamento em um matrimônio como manda a tradição.

Certa noite, exatamente pela madrugada ele acorda pálido e suando e pede a sua ajuda, ela levanta e vai até ele e sente que ele desfalece em seus braços.

Ao socorrê-lo e levá-lo até um hospital fica sabendo que ele estar muito doente. Apesar desse curto tempo de vivência ao lado dele, ela mostrou-se carinhosa, presente a todo instante.

Dias chegam para eles como uma chuva forte com trovões e relâmpagos.

A doença covardemente, traiçoeiramente foi-se chegando, se portando como uma verdadeira rival incondicional daquele amor.

Logo, o jovem senhor foi obrigado a se internar tamanha a gravidade que lhe abatia.

Sua amada ficou em sua companhia, constantemente, e com uma dedicação de uma verdadeira esposa.

Foi toda encanto e magia que uma esposa pode ser ao lado do homem que escolheu para amar.

Ah! o amor, só o amor pode e sabe as grandes proporções de se dar.

-Mesmo doente ele pedia que o arrumasse, queria parecer bem para ela, desejando ser o mesmo do primeiro dia, apesar da visível perda de cabelos e a irritabilidade que aquele câncer trazia,  fragilizando-o radicalmente. 

Ela por sua vez desperta-o dizendo que ele acordou mais belo do que o dia anterior e abraça-o fortemente.

Ao sair do quarto por alguns instantes, chora e lamenta a sorte, porém, ao entrar novamente ao quarto disfarça para não deixá-lo pensativo, jogado a sua sorte. Na realidade ela sabia muito bem onde tudo ia chegar e com certeza precisava ser forte.

Ele a olha demoradamente e agradece a tudo, devolvendo-lhe o carinho com um sorriso. Foram idas e vindas ao Hospital.

Assim, se passaram alguns meses numa incessante luta pela vida, contra aquele mal que havia se instalado entre eles.

Numa determinada manhã ele olhou para ela por alguns instantes, instantes que pareceram eternos, e pede que ela se aproxime.

Com um olhar profundamente significativo, com a voz sussurrando pela fraqueza que lhe tomava o momento, balbuciou: Querida como da primeira vez, como você é interessante!

Ela pegou em suas mãos olhando-o nos olhos da alma, nada disse, passou as mãos no seu rosto, beijou-lhe a fronte e respirou descompassadamente solvendo a sua tristeza.

Em meio ao silêncio o qual seguiu, houve um discreto sorriso, uma promessa, e um perfurme suave a tomar conta do quarto.

Nunca tiveram tão próximos, tão amantes, nunca prometeram tanto sem palavras. E ele repete agora falando bem baixinho: Querida, como da primeira vez, como você é interessante. 

Após isso, ele silenciou para sempre.