Carta não Enviada
Tarde da noite e a insônia resolveu fazer morada, não demoro para pegar o caderno na cabeceira. Nesse despertar vem logo aquela velha saudade, onde costumeiramente escrevo pra ti. São cartas que faço e não ti remeto. Nunca te enviei. Todas elas têm um destino, o lixo. Quem dera pudesses ler. Com certeza acharia cômico, talvez sarcástico e desproporcional. Afinal tudo acabou porque eu coloquei um fim. Mas não terminou aqui dentro do meu ser viajado. Guardo esse sentimento, como as lembranças de ti numa caixa de joia. Como não sepultar o que a muito terminou? Por alguma razão algo impede de enterrar o passado e deixar dormir sossegado o que a muito acabou. Já faz onze anos e eu me pergunto sempre: como estará você e o que ainda existe de nós? Será que pensas em mim em algum momento da sua vida? Volto a dormir a te buscar nos sonhos. Você está aqui e corporeamente num espaço geográfico não muito longe. Que o vento, o sol, a lua da minha noite leve um pouco da minha energia e essa estranha maneira de amar até você. Peixe do meu mar, cobertor do meu frio, vou sempre te amar, você estará sempre em meu ser febril.