Miniconto sobre a cegueira
Quando o barco zarpou, ele nem sabia onde ia dar. Apenas seguiu o ensinamento dos anciãos do clã, com a certeza de que chegaria ao seu destino, a Terra Prometida. Acreditou, fechou os olhos e deixou-se levar pelos ventos e correntes marítimas. Tinha provisões para cinco dias, pois segundo os anciãos, ele chegaria em quatro.
Os dias sucederam-se lentamente. Arrastavam-se nas vagas, deslizando sob suas escumas. Quando, enfim, chegou ao fim do quarto dia, e nada avistara, não decidiu-se por voltar, pois ainda daria tempo, economizando as parcas provisões que tinha, de chegar com vida. Decidiu seguir, ao crer cegamente nas previsões dos sábios. Não viu mais terra em sua vida. Morreu com o mar como horizonte.
Segundo os anciãos, ele falhou em seu último teste, ao deixar sua fé cega embaçar os sentidos humanos.
Morreu sem honra ou homenagem. Seu nome esvaiu-se da História.