VALENTINA DEIXOU A COVID-19 PARA TRÁS
Valentina acordou-se com febre alta, dificuldade para respirar, dor na garganta. Assustada, imediatamente ligou para a Secretaria de Saúde do município e, em menos de trinta minutos, dois agentes de saúde bateram à sua porta. Após realização dos procedimentos básicos, concluíram que o caso era altamente suspeito de covid-19 e a conduziram ao hospital, onde o teste rápido não deixou dúvidas: era a maldita doença.
A notícia atingiu Valentina como uma sentença de morte. Foi internada e o desespero tomou conta. A dificuldade para respirar, talvez em consequência do momento difícil, acelerou. A dor no peito aumentou, a garganta queimava. Acreditou, até, que enlouqueceria antes de morrer. E o marido, de quem jamais se afastara nos momentos complicados, não estava ali. Os filhos não estavam ali. Só ela, desesperada, certa de que morreria na mais completa solidão. Definitivamente só.
Cinco agonizantes dias passaram, os medicamentos não funcionavam e o quadro não se estabilizava, pelo contrário. Colocaram-na no respirador. Nenhum alívio. A falta do marido ganhava proporções gigantescas. Precisava dizer-lhe que o amava, que precisava dele, mas já não podia. Onde estaria ele? Quantos dias passaram? Nem chorar conseguia. Desejou fazer uma prece, não encontrou palavras, não conseguia raciocinar. Perdeu a noção do tempo e de tudo. Deixou de sentir, e de sentir-se, e assim, sem sentir mais nada, foi envolvida por uma paralisante sensação de estar sendo sugada por um sono profundo, que a foi levando...levando...
Alguns dias depois, ou meses? Valentina foi voltando lentamente a perceber-se. Estava viva. Sem abrir os olhos, foi expandindo os sentidos e a sentir o corpo como um todo, lentamente, desde o dedão do pé até os cabelos. Estava ótima, completamente curada. Uma música linda, orquestrada, leve e envolvente, enchia o local. O perfume suave entrava por suas narinas e a tornava plena de vida. Era como se estivesse flutuando no paraíso. Então, pensou no marido, e nos filhos, e nos dois netinhos. ”Ah! Que vontade enorme de os abraçar e beijá-los sem parar, e cantar, e sorrir, e dançar! ”
E foi abrindo os olhos bem devagarzinho. Não era o mesmo quarto. Tudo ali era fascinante, de cor predominantemente branca. Assim os móveis, a cama, as cortinas. A luz, ligeiramente azulada, aliada ao suave perfume, à bela música e à cor branca, produzia um efeito altamente relaxante. “Transferiram-me para este hospital maravilhoso, por isso me recuperarei tão espetacularmente bem” - pensou. E agradeceu a Deus.
Profundamente envolvida pela emoção do momento, só percebeu a presença de um homem de branco ao lado de sua cama, quando ele a cumprimentou:
- Bom dia, Valentina! Sou o doutor Henrique, vejo que estás bem.
- Bom dia, doutor! Estou ótima, completamente curada! Graças a Deus, a este hospital maravilhoso e, acima de tudo, a seus cuidados, com certeza! Muito obrigada! De todo o meu coração! Agora já posso ir para minha casa? Não vejo a hora de abraçar meu marido, meus filhos e meus netinhos. Estou morrendo de saudade deles. O senhor poderia chamá-los agora?
- É necessário que fiques mais um pouco sob meus cuidados, Valentina, porém alguns de teus entes familiares já estão aqui, para ver-te. Voltarei depois, quando eles saírem, está bem? Até já!
Dr. Henrique saiu, dando lugar a várias pessoas que entraram animadamente. Valentina pulou da cama, ao vê-las e abraçou calorosamente sua mãe. Em seguida olhou para os demais presentes, entre os quais reconheceu apenas sua avó Marta.
- Meu Deus! Vovó Marta!? Mãe!? E os outros, quem são?
Então, entendeu o que acontecera e chorou desconsoladamente.