A VIAGEM
A VIAJEM
- Tem um quarto?
- Um com banheiro?
- Por favor. Televisão e chuveiro.
A atendente pegou as sacolas, entregou as chaves e foi andando. Nem ouviu o comentário dela sobre o que estava passando na televisão da sala de visita. A hóspede olhou bem para os lados, como quem quer certificar de que ali; é um lugar adequado para uma pessoa como ela. Sentiu um cheiro diferente daquele que; ela estava acostumada sempre que chegava ali. Foi andando atrás da atendente e observando. Tinha um homem feio e mal vestido, ela passou, fingiu que não tinha o visto. Pensou “acho que não gosto mais de homens, ah eu não gosto de relações do intimismo. Parece tão sem sentido deixar alguém tocar” e lembrou-se do marido que sempre reclamava de sua falta de atenção. Indo pelo corredor o tempo pareceu uma eternidade, tanto era sua pressa em chegar ao quarto. E ficar logo livre daquela situação.
Ela tinha cinqüenta anos de idade, estava a frente de uma empresa, mas não era feliz e queria deixar esta posição. “ não preciso disso para viver, nem tinha mais filhos pequenos, ou alguém que precisava deste dinheiro para viver. Vivia praticamente só, o marido sempre viajando ou na rua.. sai fora disso.” Pensava.
Ligou a televisão, tomou banho, nessa ordem... Ficou imaginando que sempre ficava naquele hotel, se é que se pode chamar de “hotel”. Toda vez pedia qualquer quarto, mas desta, queria um mais confortável. A moça adivinhou, quando fez as perguntas e ela parecia tão estranha que parece que estava em outro lugar. Ali, uma vez por mês, ela sempre tinha que ir a cidade ‘grande’ para resolver problemas relacionados ao seu emprego.
Desta vez algo diferente aconteceu. Estava chovendo. O cheiro era estranho. E o pensamento no marido era recorrente. Ela o amava... Mais novo do que ela dez anos, mas, ela sentia que ele era para sempre. Como ela sempre dizia a quem perguntasse: “ é meu número”; e não falava mais nada, como quem não quer que os outros se envolva em seus assuntos.
Ligou para casa. Era tarde. Mas precisava ligar e tirar aqueles pensamentos estranhos.
- Quem?
- Sou eu... Ora... Quem mais vai ligar em casa nesta hora da noite. Estou ouvindo uma voz. De quem é?
- Ninguém. A televisão está ligada.
- Preciso contar-te uma coisa. A Joana está internada.
O carro capotou. Ela tinha comprado um carro amarelo prateado, o primeiro de uma vida, “para ser livre!” como sempre dizia quando alguém questionava que uma senhorinha ia ter um carro. Para que? Agora sua filha tinha sofrido um acidente...
Chegou ao hospital desesperada. Ela a amava tanto por ser sua filha, quanto, por ela ser dedicada, cuidadosa, responsável, estudiosa, gentil e tantas outras qualidades. Era a pessoa mais preocupada com ela que alguém conhecia. Linda, cabelos cacheados, olhos castanhos... Ficou pensando quando ela nasceu e...