O Caminho De Samaria
O Caminho De Samaria
Ferira-se o velho castelhano. Não se sabia como. Sabia-se apenas que, ao fim da tarde, lá estava o tipo, tombado junto ao solo da estrada de chão que servia de fronteira entre o município de onde supostamente partira e a cidade em que aparentemente pretendia chegar e que fora seu infortúnio ignorado por todos os homens da redondeza que por ele haviam passado. Todos, exceto o senhor Cornélio Piva, o qual, vendo-o estendido sobre a terra em condição semelhante à de um agonizante, socorrera-o, levantara-o, pusera-o sobre seu cavalo e levara-o até sua estância, delegando à esposa a função de fornecer ao forasteiro toda provisão de que o mesmo viesse a precisar.
Cornélio viajara pras bandas do Oeste na manhã seguinte. Enquanto isso, a mulher do estancieiro cumpria-lhe prontamente as ordens, dando ao hóspede tudo o que este lhe ia pedindo.
Pedira-lhe atenções. Ela lhas dera.
Pedira-lhe cuidados. Ela lhos dera.
Pedira-lhe ungüentos. Ela também lhos dera.
Pedira-lhe amores...
Findo um espaço de mais ou menos uma semana, encontrava-se o senhor Cornélio Piva de volta à estância. Adentrava a casa. Chamava pela esposa. Contudo, como não visse um sinal sequer que fosse dela, ia a seus peões de confiança perguntar o que havia acontecido com sua Jovita.
“A tua esposa? Ela fugiu com o castelhano.” – diziam-lhe todos com um ar de troça estampado no rosto.
O estancieiro, desde que soubera da notícia, envelhecera e perdera definitivamente o juízo. Tornara-se um andarilho. Fizera-se um eremita.
Morrera tempos depois, tendo seu infortúnio ignorado por todos os homens da redondeza, tombado sob o mesmo solo onde outrora vira estendido o castelhano, local em que fora sepultado sob status de indigente, pronto a mandar às favas o tal do bom samaritano, fosse ele quem bem fosse, estivesse ele onde bem estivesse.
Hebane Lucácius