UMA CASINHA NO ALÉM

Assim, de repente, Nininha se vê no meio do nada, à margem do que ela imagina ser uma linha férrea, posto que há trilhos. Está só, mas tranquila. A seu lado uma mala enorme, verde, pesada, que ela arrastara a duras penas até ali.

Espera...

Olha para o tamanho da mala e acredita que fará uma grande viagem. Provavelmente apenas mais um dos passeios aos quais está habituada e que lhe proporcionam prazer imenso. Estranha, porém, o fato de estar desacompanhada e com uma bagagem tão pesada, mas não se perturba.

Pensa...

Alguns minutos depois, ou quem sabe horas, a chegada do veículo que a conduzirá, a arranca para a realidade

É apenas um vagão. A porta se abre, o condutor desce, pega a grande mala, coloca-a no compartimento de bagagem e sem que uma palavra seja trocada, ela entra. Metade das poltronas está ocupada por pessoas desconhecidas, constatação que a intranquiliza ligeiramente. Vai para onde, afinal de contas? Embora a curiosidade lhe aguce os sentidos, nada pergunta, receando que a resposta, se houver, não lhe seja favorável. O condutor parece muito estranho.

Senta-se...

O vagão põe-se em movimento, mergulhado em absoluto silêncio. Nem o menor balanço. Parece flutuar...

A viagem termina sem sobressalto. O vagão para, a porta se abre e alguém, do lado de fora a chama, com voz tão terna e doce, que ela se sente arrebatada; a emoção lhe invade o espírito. Aquela voz lhe traz à lembrança a imagem de um ente querido, que há muito partira:

- Vem, minha querida. Tua viagem termina aqui. Vem!

Nininha desce. Olha, desconfiada, para a pessoa que a espera e não a reconhece, embora a voz lhe pareça tão familiar.

-Olá! cumprimenta Nininha. Quem és? Onde está minha mala?

- Logo saberás quem sou e tua bagagem está aqui, veja - e aponta para uma malinha minúscula, toda estampada com florezinhas multicoloridas.

- Um grande engano está acontecendo aqui. – respondeu Nininha- Não sei que lugar é este, nem para onde estou sendo levada, não te conheço e minha mala é bem grande, enorme, perto dessa aí.

- Fica tranquila, querida. Todas as tuas dúvidas serão elucidadas e a mala é esta mesma. Aqui está toda a bagagem de que necessitas.

Aquela voz, suave e terna, envolve-a de tal forma, que ela se sente em casa, completamente segura e acolhida.

As duas começam a caminhar silenciosamente, uma ao lado da outra. Nininha carrega a pequenina mala, tão leve, que parece vazia.

Vinte minutos depois, chegam a um local onde há muitas casas, todas brancas, umas maiores, outras bem menores.

- Olha, Nininha, é aqui que vais morar. Esta é tua casinha. Não é linda? Alguns familiares teus já vivem nela e te aguardam.

Nininha esforça-se , a princípio, para conter seu desapontamento, depois vai se tranquilizando, até ser envolvida completamente pela inebriante energia local. A casa, embora pequena, é linda, parece um palácio de bonecas, rodeada por uma cerca ripada, também branca, parcialmente coberta por roseiras floridas.

O ambiente aconchegante dá a Nininha a sensação de que vivera sempre ali, numa casa um pouco maior, mas ali.

- Minha querida pequerrucha...

Pronto, lá se foi o encantamento. Nininha, reconhece, por fim, a voz. Apenas sua vó Maria a chamava assim.

“ Meu Deus! É, mesmo, vó Maria? Não pode ser, ela já morreu há muito tempo, uns dez anos. Mas, se é ela, então morri! É isso mesmo, estou morta!”

Chora convulsivamente e, assim, em lágrimas, acorda-se. Está na sua cama, no seu quarto. Viva, mas impregnada de uma sensação estranha. Sua mente está longe, coração apertado. Sente uma espécie de saudade de alguém, de algum lugar. Não consegue entender e volta a chorar. Agora um choro misturado de alegria e tristeza.

MCSobrinho
Enviado por MCSobrinho em 22/08/2018
Reeditado em 15/07/2024
Código do texto: T6426987
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