Contramão

Eu a disse - Gosto de você! - e não sei como ela entendeu, mas me pareceu um "quero te controlar". Não digo isso porque recebi um "não", mas porque depois disso, nada foi a mesma coisa. Discursos do tipo "você não é meu dono" começaram a surgir em convites que sempre fiz, sem qualquer conspiração. Tudo como era antes, só para sair, comer algumas coisas e beber, toraram-se inviáveis, pois, toda ação era um pretexto de investida, como se estivesse tentando comprar seus sentimentos e vida, a submeter aos meus caprichos.

Já conhecia um pouco de seus casos anteriores, mas nunca desconfiei de que as marcas eram mais fundas do que pudesse imaginar. O medo de tentar novamente estava forte. Entretanto, não era só criar um caso e acabar, isso era fácil para ela, o problema mesmo estava em se aprofundar na relação. Eu mesmo desconhecia se era, ainda, um desejo que ela gostaria de realizar, sobre o que ela achava de tudo isso, se ainda acreditava poder viver algo assim. Eu só sabia que me sentia bem com ela, e crer que poderia a fazer feliz. Não sei se fui tolo por acreditar em certas ficções.

No meu imaginar, não era um pacto, um contrato, apenas uma tentativa de criar uma relação a dois. Gostaria de conhecer o que ela escondia e só contaria para aquele amigo imaginário, e fazer esse mesmo reverso. O que me fez pensar sobre ela ser a única a brilhar nos dias de encontros, pois eu não passava de um desconhecido ouvido. Lembrei que sempre a deixei a vontade, a admirava, mas tudo isso ficou distante. Tudo foi como imaginar um roteiro e escrever, porém, nunca foi atuado.

Queria eu poder apontar com veemência um culpado geral, mas não há nenhum. Ao mesmo tempo que me dei trabalho, não fiz garantia alguma. Da mesma forma que fui recepcionado, não passei da varanda. E mesmo assim, ainda fui feito vendedor, e não alguém de trocas. A inexperiência venceu um poderoso sonho, pois os detalhes foram ignorados com pretexto de atalho.