A Permuta
A Permuta
Um dia, o Sol cansou-se de ser Sol, a Lua de ser Lua e a Terra de ser Terra.
Reuniram-se e, em consenso, após conversa quase que eterna, decidiram trocar de lugar Um com o Outro.
O Sol passaria a girar em torno de Si Próprio e da Lua, que assumiria o status real que antes pertencera ao Sol. Enquanto isso, à Terra caberia ocupar o posto que a Lua deixara.
O Sol, então, em Seu último ato como Rei Astral, mandara e fizera publicar, em todas as esferas burocráticas e midiáticas celestes, um decreto que discorria acerca da nova situação que, dali em diante, se operaria sobre a Via Láctea.
No dia seguinte, à hora matutina,... Não houve dia seguinte. Muito menos hora matutina.
Acostumado a nascer e a se pôr todos os dias e pouco habituado a girar, descobrira o Sol que não se poderia livrar da luz, do brilho e do calor que trazia dentro de si. Além disso, Seu solo incandescente era incompatível com a condição de planeta que sempre almejara, pois jamais permitiria que alguém em si morasse.
Entristecera. Pesadas lágrimas de vento e vapor escorreram dos olhos do rei.
A Lua que, por sua vez, sempre sonhara ostentar consigo o título de Rainha Astral, se apercebera de repente de que lhe faltara luz própria.
Deprimira-Se. Recolhera-Se às trevas, sobre as quais outrora reinava.
Já a Terra, cujo íntimo sempre desejara ser cantado pelos poetas e evocado pelos amantes, vira fracassar Seu intento, ao notar que o lugar de satélite Lhe seria mais incômodo que o de planeta.
Angustiara-Se. Quedara-Se estática.
Um segundo bastou para que pensassem tudo isso. Um dia bastou para que insistissem no vigor de tudo isso. Uma eternidade restou para que de tudo isso Se arrependessem.
Hebane Lucácius